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A automação está a tornar-se um caso sério

21/03/2021

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Com um grande número de instituições a trabalharem concertadamente no desenvolvimento de soluções automatizadas para o setor agrícola, as notícias que vão dando conta de novos progressos chegam de todas as frentes.
Os departamentos de robótica das universidades, as empresas tecnológicas emergentes e até mesmo as empresas de fertilizantes têm vindo a posicionar-se neste setor. A maior parte das vezes trabalham no âmbito de consórcios que reúnem contributos de várias proveniências.
Os fabricantes tradicionais de equipamentos agrícolas também não querem ficar de fora da corrida e por isso têm reforçado os departamentos de I&D e investido em empresas emergentes que surgem com novas ideias e projetos. 
Quando falamos de automação, não falamos apenas de pequenos robots. Falamos de todo o tipo de aplicações! E falamos de um setor que apresenta uma tendência de crescimento.

Volume de negócio de 6,2 mil milhões de euros
“O banco ABN AMRO pesquisou e mapeou o mercado mundial de drones, robots de ordenha e de alimentação animal, robots de campo, tratores autónomos e máquinas relacionadas, assim como de hardware e software para análise de dados. De acordo com os cálculos e estimativas do banco, o atual mercado deste sector ‘agritech’ representa cerca de 6,2 mil milhões de euros em todo o mundo” é mencionado pela publicação holandesa Future Farming.
A escassez de mão-de-obra, as imposições normativas que visam reduzir o uso de herbicidas e as exigências no sentido de uma produção dos alimentos com maior rastreabilidade são fatores que levam aquela instituição a prever que este sector assista a uma duplicação do volume de negócios até 2025.

A procura à frente da oferta e das leis
Alguns fabricantes tradicionais têm apresentado protótipos de máquinas autónomas em estádio muito avançado. Mas, a respeito de comercialização, os planos apontam quase sempre para daqui a uma década. Embora existam casas agrícolas a demonstrarem interesse nestes produtos, sobretudo as que trabalham em grandes extensões, os fabricantes aguardam um contexto normativo que enquadre a automação e aguardam uma infraestrutura de telecomunicações mais eficaz. Prevê-se que Internet 5G permita progressos assinaláveis neste domínio.
Enquanto estes requisitos não se cumprem, há no entanto diversos preparadores que já aplicam tecnologia autónoma em tratores convencionais de série, a pedido dos clientes. E os novos fabricantes também evoluíram, ao ponto de haver diversas máquinas autónomas já em comercialização. Há assim uma parte do mundo que avança, com a rede de comunicações que existe e sem esperar por leis mais sólidas.

A transição para um paradigma diferente
Nos dias de hoje, o planeamento das operações de campo é maioritariamente feito no posto de condução de um trator ou de uma ceifeira. As máquinas têm gente dentro.
Mas, quanto mais as soluções de automação se venham a afirmar, mais esse planeamento se vai deslocar para os escritórios, onde é feito o mapeamento de parcelas, a programação das máquinas e depois a sua monitorização e a análise de dados. E as máquinas passarão a não ter gente dentro.
Ou a não ter gente dentro durante uma parte do tempo. Porque, à parte os conceitos de automação total, as máquinas tendem a manter um posto de condução para que o agricultor assuma os comandos sempre pretenda e seja necessário. 
Ainda assim, é uma mudança de paradigma a que iremos assistir gradualmente e que não se vislumbra ainda com clareza todos os impactos que irá ter.

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Vantagens atribuídas à automação

- Alargar a janela temporal das operações culturais.
- Potencial para trabalhar 24 horas e 7 dias da semana.
- Possibilidade de várias máquinas trabalharem coordenadamente, em enxame, na mesma parcela.
- Libertar o agricultor das tarefas de campo para que possa dedicar mais atenção a outros aspetos de gestão da exploração.
- Utilização de máquinas mais leves (sem cabine) que reduzem a compactação do solo.
- Minimizar a ocorrência de acidentes laborais devidos a cansaço e erro humano.
- Obter ganhos de eficiência energética. 
- A generalização da monda mecânica de precisão contribui para reduzir o uso de agroquímicos.

 

Grandes extensões

Plataforma de potência para grandes culturas
O conceito da Raven Industries está alicerçado num chassis em formato de U, no qual são encaixadas as alfaias com que é compatível. Uma vez ‘carregada’ com a alfaia, a plataforma e a própria alfaia funcionam como uma peça só, coincidindo no mesmo espaço, e não como duas peças separadas como acontece com os tratores convencionais.
Para já, está preparada para trabalhar com um semeador, com um distribuidor de fertilizante e com um pulverizador. Mas a Raven refere que está a testar a compatibilidade com acessórios para uma maior diversidade de tarefas.
Nas manobras de engate de alfaias, abastecimento ou recolha para um hangar, a plataforma DOT pode ser manuseada por controlo remoto através de um tablet. Quanto às operações de campo, pode funcionar em modo totalmente autónomo seguindo um plano de trabalho predefinido através de um programa de computador.  
Com a propulsão assegurada por um motor Cummins de 4 cilindros com 173 cv, a plataforma movimenta-se recorrendo a posicionamento GPS. Os planos de trabalho para cada parcela podem ser redefinidos a qualquer momento para dar resposta a alterações ao nível das condições de campo.
Preço: 580,000€

Robotti com tradicional engate de três pontos 
Na Europa, é a AgroIntelli que detém um dos projetos mais maduros no domínio das máquinas agrícolas autónomas para campo aberto.
Esta marca dinamarquesa atualizou recentemente o seu porta-alfaias Robotti 150D, dotando-o de maior dimensão, maior potência e rodas mais largas.
O Robotti é servido por dois motores Kubota de 75 cv, um dedicado à propulsão e o outro dedicado à TDF e aos serviços hidráulicos, sendo a tração assegurada por motores hidráulicos.
Baseado num tradicional engate de três pontos, pode operar com alfaias convencionais com até 3 metros de largura a uma velocidade até 10 km/h. O funcionamento autónomo é garantido por sistemas de visão e de inteligência artificial.
A preparação de solo, a sementeira e a monda mecânica estão entre as tarefas que pode realizar. Graças a uma altura ao solo de 92 cm, pode entrar dentro das culturas já numa fase avançada de crescimento, o que também permite fazer tratamento com pulverizador.
Segundo a AgroIntelli, por ser mais leve entre 35 e 50% do que um trator convencional da mesma potência, esta máquina pode atuar numa janela temporal mais alargada.
Preço: a partir de 175.000€

 

Produção animal

Vai do silo até à manjedoura em modo autónomo
A produção animal é um dos setores onde a automação se começou a afirmar desde muito cedo.
Os robots de ordenha começaram por ter um papel de relevo mas muitos outros progressos têm sido feitos no sentido de reduzir a intervenção humana em trabalhos mais duros e repetitivos.
Agora, está a chegar a vez dos unifeeds. A Kuhn anunciou que vai colocar no mercado ainda este ano o misturador automotriz Aura, que dispensa condutor.
Este veículo está pensado para garantir a alimentação de precisão de 280 vacas, realizando todas as etapas desde o silo até à manjedoura de forma autónoma. 
No exterior dos edifícios, o guiamento é feito por GPS em combinação com um odómetro e no interior dos estábulos recorre a um sensor Lidar em combinação com um odómetro.
A propulsão é assegurada por um motor com 56 cv de potência e existirá uma versão híbrida, que passa a modo elétrico quando a máquina entra no estábulo.
 

Horticultura e viticultura

CEOL para diversas culturas e tarefas
Resultante de uma parceria entre a Agreenculture e a Kuhn, este autónomo de rastos é propulsionado por um motor diesel de 30 cv. Com um convencional engate de três pontos, é compatível com muitas alfaias e está a ser desenvolvido para operar em diversas culturas. Pode trabalhar de forma autónoma até 20 horas em contínuo.

Trektor usa alfaias tradicionais
Assume-se como uma máquina de transição, oferecendo aos agricultores a oportunidade de usarem as alfaias que possuem. Tem propulsão híbrida (diesel e baterias) e evidencia-se por ser ajustável a nível de largura de via, altura ao solo, e distância entre eixos, o que lhe dá versatilidade para muitas finalidades e contextos de trabalho.
Preço: a partir de 200,000€

Ted Naïo trabalha em vinhas
Assenta numa estrutura de arco modular e destina-se ao controlo de infestantes em vinhas com diferentes espaçamentos. É elétrico, suporta diferentes acessórios, incluindo intercepas, e opera a uma velocidade de 4 km/h. A Naïo comercializa ainda os robots Oz, para pequenas explorações hortícolas, e Dino, para monda de culturas de vegetais em larga escala.
Preço: a partir de 125,000€ (Ted Naïo); 9,995€ (Oz); a partir de 110,000€ (Dino)

 

Horticultura doméstica

Hortas em canteiros tratadas por um robot
A uma escala doméstica, quem tiver algum espaço no terraço ou no jardim e pretenda fazer uma horta, pode pôr de lado a sachola e o regador e passar a controlar tudo pelo telefone.
O FarmBot Genesis é fornecido como um kit para instalar em casa, o que significa que nos primeiros dias a pessoa se tem de dedicar seriamente ao modelismo para dar forma ao puzzle.
Entre as muitas pequenas peças estão incluídos os aspersores de rega, câmaras, sensores de solo, etc. Ultrapassada essa etapa, e definida uma ou várias leiras (até 2,9 x 1,4 metros), o hortelão entra ao serviço.
Tem associado software que aconselha o que plantar, com que sequência no calendário e em que área. A lista de variedades de hortícolas vai para além de trinta, entre as quais encontramos: abóboras, alfaces, batatas, couves, espinafres, ervilhas, rabanetes e rúcula.


O sistema faz praticamente tudo o que é anterior à colheita. Semeia, faz o controlo mecânico das infestantes e rega. Para funcionar necessita de um recipiente com água, eletricidade (um painel e uma pequena bateria são suficientes) e uma ligação de internet para comunicar com a app.  
A pessoa monitoriza no telefone e passado algum tempo vai obter uma couve, uma alface e o que mais tiver sido semeado no canteiro. Impressionante, não é?
Preço: 2445€


*preços referidos com base na revista Future Farming nº3-4

 

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