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Dia de Folga

Nasceu o Homem do Trator na mítica EN2

08/07/2022

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“Há 42 anos que eu ando de moto e nunca fui o homem da moto. Numa semana passei a ser o Homem do Trator.” A aventura de 13 dias de Mário Isidoro fez história: pela primeira vez, uma pessoa fez a mítica Estrada Nacional nº 2 de Portugal num trator, a uma velocidade máxima de 25/30 kms/hora, num trajeto que incluiu ainda o trajeto de Arruda-dos-Vinhos até Chaves e de Faro até Arruda-dos-Vinhos. abolsamia acompanhou esta viagem sem precedentes, até para o experimentado Mário Isidoro.

As imagens desta aventura falam por si mas também as histórias que o Homem do Trator nos foi contando ao longo da jornada mostram todo o entusiasmo de uma viagem há muito pensada. “Há quatro anos já queria fazer a EN2 de trator e até era para fazer num Massey Ferguson mas o meu irmão vendeu-o e veio o Covid... não deu”, contou, explicando que era para ir com um amigo que desistiu, embora isso não tenha beliscado o espírito positivo do Homem do Trator.

“Na festa de Vila-Verde-dos-Francos em outubro do ano passado, o António Prata [empresa AFN Prata, concessionário Deutz em Vila-Verde-dos-Francos] disponibilizou logo o trator e a Sobral Pneus disse que os pneus eram por conta deles. Era para ir um amigo comigo mas ele via sempre a parte negativa da aventura. Não por mal mas porque é do feitio dele. E desistiu. Ainda sofri dois dias com um calor que nem dava para estar sentado no trator com calções. Eu vejo desta forma: quando abrimos uma conta no banco, é sempre positiva, só depois é que passa a negativa (risos). Há que ser positivo.”

Promessa para o futuro

Com várias histórias para contar (ver em baixo) e mais de 300 fotografias tiradas ao longo de 13 dias - “Nenhum trator em Portugal tem tantas fotografias, nem os que são expostos na FNA”, disse - , o Homem do Trator, com larga experiência em cima de uma moto, fez uma promessa para o futuro: “Se o Miguel Oliveira ganhar o Campeonato de MotoGP, eu faço neste trator os quatro cantos do país.”
 

13 dias, 13 histórias

“Vi coisas no trator que nunca vi de mota. Fiz a EN2 pela primeira vez em 1985, já ela tinha muitos cortes mas foi quando eu a comecei a conhecer bem. Nos anos 90 fiz várias vezes e nos últimos tempos também fiz com amigos. Mas nesta viagem vi coisas nas quais nunca tinha reparado: por exemplo, riachos, encontrei umas ruínas de um palácio em Penedono e fiquei espantado com aquilo, que nunca tinha visto porque de moto e de carro passa-se depressa e não vemos nada.”



“Fui a locais por onde nunca tinha passado, por exemplo, fiz pela primeira vez a Rua Direita em Viseu com escolta policial a pedido deles e nem tirei fotografias. Também levava a polícia ao lado (risos)... mas depois cheguei a tirar fotografias até com GNR.”

“Outra parte muito positiva foram as pessoas que, em todo o lado, me chamavam para parar aqui e ali. Em todos os lados também fui aos quartéis dos Bombeiros, só na Sertã é que não consegui ir porque o quartel mudou de zona há dois anos.”



“Em Almodôvar, estava a fazer a Rotunda do Mineiro com o trator e vi uma família de cerca de 20 pessoas a almoçar, e fizeram uma grande festa ao pé da rotunda. Tirámos uma foto em que nem sequer se vê o trator, só um bocado de uma roda em que um deles se sentou em cima dela.”


“Podia ter ido com um trator roubado ou sem carta, naturalmente que estou a brincar, que ninguém me fazia nada. No primeiro dia, acampei. Fui ao Intermarché, meti gasóleo, e fui fazer compras para o pequeno-almoço, cheguei ao trator e havia imensa gente à volta do trator. Podia ter ido sem dinheiro nem nada que conseguia fazer isto na mesma. ”
 


“Faltava-me um carimbo no km380, que não conseguia fazendo de mota porque vamos sempre mais depressa. No trator, como é quilómetro a quilómetro, consegui fazer aquela parte da estrada da EN2 que é parte antiga, tirei uma fotografia e meti o carimbo.”

“Em Vidago, houve um casal que disse que ia comigo mas de moto, a acompanhar-me. A senhora tinha uma mochila grande e dizia que iam parando. Então eu disse-lhes para irem andando, que eu levava-lhes a mochila mas avisei-os que no máximo só podiam ir até onde eu chegaria ao fim do dia para terem a mochila à noite. Eu disse-lhe: “Eu vou dormir a Lamego. Vocês não podem passar de Lamego (risos).”

“Eu andava mais depressa no norte do que no Alentejo. Parece que o trator andava mais na estrada de curvas do que na estrada a direito. Na Serra do Caldeirão, como havia mais distração, foi sempre a andar e até percebi que ia chegar a Faro mais depressa do que a Margarida [esposa]”

“Tirei fotos com a concorrência, a John Deere. Deram-me um boné, um calendário, tanta coisa... e o senhor disse-me: 'Se tiver algum problema no trator até Coimbra, ligue-me que vamos ter consigo. Eu mando nesta zona toda.'”


“Andava um casal num jeep a fazer a EN2 off-road e íamo-nos cruzando no caminho. Saíram de Chaves comigo, eu fazia a estrada e depois eles saíam da estrada, iam pelo mato. Passaram vários dias por mim e apitavam sempre.”

“No norte, perdi o telemóvel ao segundo dia de viagem e fiz 240 kms. Aí tive uma avaria no conta-horas, apesar de a velocidade ter sempre funcionado. Eu contava os kms pelos marcos na estrada porque dá tempo para isso (risos).”

 

“A EN2 tem 738kms mas há parte cortadas em que tens de contornar, por isso, fazes sempre mais do que isso. Por exemplo, na Aguieira, meteram lá a barragem e essa parte foi cortada. No Sardoal também te tiram 5 kms à estrada mas têm lá o marco. Quando vejo a ponte para passar, penso: 'Não passa aqui ninguém, será que o trator passa?' Foi até acabar. Tive de fazer marcha-atrás e só uma senhora é que me disse que ali não passava ninguém (parte antiga) e tive de ir para a parte nova. Faz-se mais uns 3 kms.”

“Em Chaves, o comandante da polícia pediu-me para ir ter com ele à esquadra, carimbou-me o meu diário de bordo e até fez uma dedicatória. Foi muito bom.”

 

 

Perguntas dos nossos seguidores para o Homem do Trator

Qual foi o estado final dos pneus do 4006? (Sérgio Cardoso)
MI: Estão praticamente novos, tiveram 5% de desgaste.

Quantos kms realizou? Quantos litros de gasóleo gastou na viagem? (Humberto Gomes)
MI: Fiz 1.650 quilómetros. Gastei 410€ de gasóleo, a 1.90€ o litro, por isso gastei 216 litros.

Condecoração já! (António Bastista) Acha que merece? (abolsamia)
MI: (risos) Não... eu já fui condecorado na concentração e na chegada a Faro e recebi uma medalha. Não é ouro mas fica bem.

Impressionante... vai para o Guiness? (Silva José FZ)
MI: Creio que já houve gente a fazer mais quilómetros numa estrada, a questão é que esta une um país de ponta a ponta. E acho que como esta só há uma na Argentina e a famosa Route 66 nos Estados Unidos.

Porquê este modelo para fazer a viagem? (José Manuel Capela)
MI: Porque era o trator do Prata e era o melhor para este desafio.

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