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Heliodoro Catalán Mogorrón

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Vamos lá comprar um trator

06/11/2019

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Descrever-se-ão, pois, as decisões que um agricultor médio deverá considerar no seu processo de aquisição destas máquinas, tendo sempre em linha de conta que esta deve ser uma experiência agradável e não um quebra-cabeças.

 

Não deixe que lho vendam, deve ser você a comprá-lo

Nunca diga “maior que o do meu vizinho”
Não se deixe levar pela ideia de comprar um trator maior que o do seu vizinho. Compre, apenas, o trator da dimensão que necessita. O conhecimento é poder, pelo que convirá aceder a informação antes de visitar qualquer concessionário. Isso pode ser feito, facilmente, através das páginas dos fabricantes na Internet para visualizar os produtos e consultar as características. Por norma, aquelas páginas são muito bem feitas e estão carregadas de informação relevante. É aí que deve ser dado o primeiro olhar ao modelo de cada marca que melhor se adapta às características do seu cultivo. Atenção, também, às várias opções de configuração possíveis.

 

Fazer uma lista
Nesta altura já estará em condições de se dirigir a um concessionário quando inteirado do modelo que melhor o serve. Uma vez na casa de venda analise outros fatores importantes como o profissionalismo do vendedor, o seu crédito na zona, o serviço de assistência técnica do concessionário (tenha sempre em conta que se aprende muito com uma visita às oficinas).

 

As especificações de que necessita
Potência, transmissão, distribuidores externos, pneumáticos, engates, assento, luzes de trabalho... Poderá não ser fácil, pois cada fabricante dá diferentes nomes à mesma coisa, seja a potência, a transmissão, o serviço hidráulico (mais adiante). Não esquecer solicitar um orçamento profissional, por escrito, onde figurem, de forma clara, as especificações do produto e se há variações de preço consoante as várias opções.

 

Comparar alhos com bugalhos
Com aquela lista peça ao concessionário que lhe orçamente aquele trator e não qualquer outro. Só assim lhe será possível comparar especificações similares, se não mesmo iguais, de outras marcas no mercado.

 

Potência
A informação proporcionada pelos fabricantes deveria ser facilmente verificável, mas infelizmente isso é algo que geralmente não ocorre. Navegue por vários catálogos de diferentes marcas para conferir a “dança dos números” da potência “de acordo com as normas ISO, ou DIN, ou SAE...” É preciso um pouco de paciência, na certeza que os fabricantes poderiam colaborar mais entre si, usando o mesmo padrão.

 

Transmissão
Porventura, esta secção será a que lhe fará perder mais tempo a analisar as diferentes opções. É que diferentes especificações significam diferentes preços de venda, a começar por uma caixa de velocidades convencional com sincronização de engrenagens, que se complica quando se opta também por um sincronizador de grupos. O passo seguinte seria escolher alguma velocidade sob carga - um Hi-Lo “simples” (duas velocidades sob carga) -, ou optar por toda a gama de velocidades sob carga (semipowershift), bem assim como o tipo de inversor de marcha (mecânico, hidráulico, eletrohidráulico), ou a possibilidade de selecionar mudanças de grupo sem desembraiar.
Se continuarmos a investir neste capítulo saberemos que muitos fabricantes podem oferecer alternativas de mudanças automáticas de marcha baseadas na “robotização” da transmissão e na operação conjunta com o motor (fullpowershift, ou completamente sob carga) até atingir transmissões infinitamente variáveis, hidromecânicas, contínuas, sem interrupções (CVT). E aqui, de novo, a parafernália utilizada pelos construtores na elaboração da nomenclatura para fins comerciais das suas transmissões (dyna 6, autopower, directdrive, electrocommand…) poder-nos-ão confundir, razão pela qual somos obrigados a ter redobrados cuidados na hora de eleger uma.

 

TDF
É preciso atenção para comprovar o tipo de ligação, embraiagem, velocidades de rotação do veio e seleção das mesmas, bem assim como a existência de comando externo e automatismo de ligação da tomada de força.

 

Dupla tração
Eixo dianteiro com ou sem suspensão; ligação mecânica ou eletrohidráulica, suspensão de roda ou de eixo, raio de direção, automatismos de ligação, controlo de diferencial, guarda-lamas dianteiros (pivotantes ou fixos).

 

Necessidades hidráulicas
Qual o caudal e o tipo de circuito que necessito? Atenção a esta especificação, pois geralmente um viticultor tem mais necessidades hidráulicas, apesar de usar tratores mais pequenos - em comparação com outros para campo aberto -, uma vez que devem utilizar, à vez, diversos tipos de alfaias, como o alimentador da trituradora, varredoras, e por que realizam viragens apertadas de cabeceira. Convirá apontar o número de saídas hidráulicas necessárias e onde elas são precisas (traseiras, ventrais, dianteiras), e se devem ser mecânicas ou eletrónicas, ou devem dispor de comando externo de algum distribuidor.

Elevador
Será necessário analisar os parâmetros como a sua categoria; tipo de braços inferiores; tensores laterais; capacidade de elevação; comandos remotos; se o terceiro ponto deve ser convencional ou hidráulico. Sem esquecer, claro, se um elevador frontal terá grande utilidade.

 

Atenção aos dados
Não raras vezes, o marketing leva a que se escrevam enormes barbaridades no que se refere à capacidade de elevação, como no caso de um trator de 3000 kg ser capaz de levantar uma carga de 5000 kg... Nesse caso, e para tirar dúvidas, dever-se-á exigir ao concessionário a ficha com os dados do ensaio OCDE.

 

Cabine
Há muito que analisar nesta categoria. Dir-se-á que parte da decisão da compra de determinado trator é condicionada pela sua disposição e equipamento. E a escolha do equipamento deve ser feita de forma muito pragmática. Questões-chave – suspensão na cabina; tipo do assento; assento de acompanhante; AC ou climatizador; filtro de carvão ativo; ecrã; consola descansa-braço. A ergonomia em geral é tão importante como a própria extensão dos guarda-lamas traseiros.

 

Automatismos e ajudas à condução
Gestão de cabeceiras; sistema de ajuda  à condução, ou autocondução.

 

Pneus
Verificar a medida e o fabricante. Não se esqueça de determinar se necessita, ou não, que a união do pneu e do disco seja aparafusada.

 

Engates
Se automático, ou do tipo rápido, de boca de lobo, com ou sem cavilha fixa.

 

Luzes de trabalho
O tema não é de somenos importância, pois uma boa escolha na hora da compra evitará que, posteriormente, alguma alteração obrigue a rever a potência do alternador, o que conduzirá ao aumento dos custos.

 

Serviço pós-venda
É muito importante analisar a reputação do concessionário na zona e a qualidade do serviço técnico que presta. É absurdo eleger a marca X por se dizer que “é muito boa”, se nas redondezas não presta serviço de assistência.

 

Desvalorização
“Ontem comprei um trator e hoje já estou a perder dinheiro”. A depreciação do valor de uma máquina inicia-se a partir do momento da sua compra. Esta avança em duas escalas – com o tempo e com o uso. Mas esse valor é algo tangível, pois reflete-se na contabilidade de uma empresa, na medida em que o aproxima ao valor real do mercado. A depreciação está baseada nos valores de compra e de revenda. O mais usual é calculá-la de forma linear (custo do equipamento-valor de revenda/vida útil). Outros métodos mais apurados são aqueles que prevêem uma depreciação ou amortização na qual são levadas em conta tanto a obsolescência (ninguém deseja ficar com um trator antigo), mas também a intensidade do uso e o desgaste.


Mas nem todas as marcas se depreciam por igual. Em Portugal (aparentemente) não foram publicados estudos de depreciação de tratores segmentados por marcas, ainda que seja uma prática habitual em outros países.
De acordo com outro estudo, realizado pela publicação francesa Entraid, e detalhado nas páginas seguintes, em oito anos o valor do trator cai até aos 50% (valor médio). No entanto, há diferenças entre marcas, sendo que o valor de recompra de um trator com 10 mil horas não é o mesmo para todas as marcas.


E a marca que valor tem? Colocando de lado as questões do mercado de capitalização em bolsa,
a verdade é que a marca tem extrema importância no mundo agrícola. No mercado da Península Ibérica existem marcas que obtêm uma boa percentagem das suas vendas apenas pela cor dos seus tratores, o que não deixa de ser uma questão bastante irracional. Fica um conselho: o potencial comprador deve refletir e usar do pragmatismo na hora de gastar o seu dinheiro, sem se deixar levar por uma questão de “amor incondicional” a determinada marca.

 

-ler-mais-

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