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Jan/mai 2023: Um apoio que sabe a pouco

13/07/2023

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Um apoio que sabe a pouco

O registo de matrículas de tratores agrícolas em maio continua a situar-se na casa dos 28% negativos, mesmo que tenha havido uma novidade em relação aos dois meses anteriores: o apoio concedido ao abate de tratores agrícolas para “pequenos investimentos”. É uma medida que, segundo alguns representantes de marcas, “deveria ter ido mais além” e não ter um impacto situado apenas nos segmentos de potência mais baixos, ou seja, tratores indicados para agricultura familiar.

Entre janeiro e maio deste ano foram matriculados 2.030 tratores, menos 824 (-28,87%) do que em igual período de 2022 (2.854). Desde março que o mercado estabilizou na casa dos 28% negativos mas, se daí para abril, nada mudara, maio trouxe uma novidade ao setor. Suficiente para provocar mudança? Nuno Inácio pensa que não. “Quase nada se alterou, a mudança principal é o programa do abate lançado pelo Governo. Que a meu ver, vai impactar fortemente o segmento até aos 50, 60cv e depois será sempre a diminuir até aos 100cv. Ou seja, será um impacto à volta de 600/700 tratores no final do ano, o que significa uma melhoria de, no máximo, 10% nos números globais do ano no mercado”, explicou o CEO da J. Inácio, distribuidor da John Deere em Portugal.

Arnaldo Caeiro, Diretor-Geral da SDF Portugal, alinha pela mesma ideia e refere que “este apoio deveria ser mais adequado aos preços de mercado atuais”: “Atendendo ao cenário económico que atravessamos, esta medida deveria ter ido mais além, e ser mais apelativa para a efectiva renovação do parque de tratores, mantendo a percentagem de comparticipação até 70% e aumentando o valor máximo de custo a considerar para valores superiores a 50 mil euros.”

Para Nuno Inácio, este apoio não incentiva os agricultores profissionais. “Está muito focado para quem faz a agricultura familiar, de fim-de-semana. Se o objetivo foi esse, então foi bem direcionado. Mas se pensarmos em apoios que pretendam desenvolver a agricultura profissional do país, estes não se enquadram. Volto a dizer que o Governo devia ter uma estratégia bem definida para a agricultura e ver esta como um pilar estratégico do desenvolvimento do país. Isso iria contribuir para aumentarmos as exportações, reduzir o défice e, muito importante, equilibrar a nossa balança alimentar. Estes apoios deviam incentivar e premiar quem faz agricultura 4.0, de precisão, pois só dessa forma podemos crescer. Não temos de fazer o que fazem em França ou na Alemanha, até porque o clima deles é bem diferente do nosso, mas devíamos ter um plano bem definido consoante as vantagens que temos cá em relação ao clima e aos solos de que dispomos.”

O impacto real deste apoio financeiro só se verá mais para a frente e, enquanto isso, tem-se agravado o clima de seca – a nível estatístico, refira-se que 35% do território de Portugal Continental esteve em seca severa (26,3%) e extrema (8,9%) em maio – que já levou a Comissão Europeia a criar um pacote de apoio de 330 milhões de euros para os 22 Estados Membro da União Europeia, cabendo aos agricultores portugueses uma verba de 11,6 milhões de euros. A junta à falta de chuva, permanecem elevados os preços de tratores novos, agregados a altas taxas de juro.
Maio foi, então, o segundo mês de 2023, depois de fevereiro, em que foram matriculados menos de 400 tratores (388) e a quebra sentiu-se mais no escalão <50cv, destinado a clientes não profissionais, que vem a cair desde março. De abril para maio notou-se um aumento no número de matriculações no setor profissional (+100cv). 

Nota: Expurgámos os ATV e UTV homologados sob a categoria T e os Telescópicos. | Origem: IMT / Fonte: ACAP

Marcas
A quebra, desta vez, engloba ainda mais marcas do que no fim de abril: das 15 primeiras marcas, só a LS e a Preet é que registaram subidas, com esta última a ter um aumento de 50% em relação ao número de matriculados que tinha em maio do ano passado. Entre as dez marcas com mais unidades matriculadas, continua a ser a New Holland a que regista o maior decréscimo em relação ao período homólogo do ano passado: -43,32%. A Solis mantém a liderança mas a quebra, que era de 11,26% em abril, já é de 21,25%. E a marca que mostra maior crescimento em relação ao mesmo período do ano passado é a Branson – 52% - pois matriculou 38 tratores entre 1 de janeiro e 31 de maio deste ano, quando no ano passado se ficara pelos 25. Quanto às quotas de mercado dos cinco primeiros, só a Solis e a John Deere é que melhoraram. Todas as outras marcas caem, com a New Holland a descer quase 3 pontos percentuais.

Unidades vendidas por escalão de potência
Nos segmentos de potência mais vendidos, saltam à vista os números do >200cv: 53 tratores matriculados atingindo, em cinco meses, quase 60% (58,8%) do número total (90) alcançado em 2022. A explicação que Nuno Inácio deu na edição anterior parece ganhar força, até porque em maio foram matriculados mais 10 tratores >200cv. “Hoje em dia há uma tendência para os agricultores evoluírem para potências maiores, pois perceberam que podem fazer o trabalho com um trator maior e um só operador. Esta decisão está relacionada com três pontos: a dificuldade em encontrar bons operadores; o facto de o custo por cavalo diminuir à medida que potência aumenta, ou seja, comprar dois tratores de 100cv é hoje mais caro do que comprar um de 200cv; e a questão da velocidade: os agricultores têm áreas cada vez maiores mas a janela temporal de trabalho é a mesma. A palavra-chave de hoje é velocidade.” Nos restantes escalões, nota para uma alteração: o <50cv fica, pela primeira vez este ano, aquém de 50% mas, devido ao mais recente apoio ao abate que, como explicaram Nuno Inácio e Arnaldo Caeiro, visa ajudar à troca por tratores de baixa potência, a tendência é que volte a recuperar no segundo semestre do ano.
 

Marcas e modelos mais vendidos, classificados por segmentos de potência
Segundo os dados do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), a Solis foi a marca que matriculou mais tratores nos primeiros cinco meses de 2023 (341) e também a que detém os dois modelos mais vendidos. O destaque da marca indiana este ano é o 26 9+9 M5, o qual teve 146 unidades matriculadas, ou seja, 42,82% do total dos registos da Solis. Contabiliza mais 39 unidades do que o... Solis 26 4WD Stage V e precisamente o dobro dos 73 tratores do Farmtrac 26 4WD, o terceiro da lista. Quanto às marcas líderes nos diferentes escalões de potência, a Solis prolongou o domínio <50cv, com 321 tratores matriculados novos, mais 216 do que a Kubota. No escalão 51-120cv, a New Holland fugiu à Deutz-Fahr, chegando aos 158 tratores matriculados, mais 53 do que a marca alemã, a qual ocupa um lugar que foi da Kubota em 2022. Já nas potências mais elevadas, a John Deere sobressai nos 121-200cv, matriculando quase o triplo (60) da Fendt (25). Já no escalão >200cv, a John Deere perde para a Valtra, que regista 20 tratores matriculados, mais 7 do que a marca do veado. Se olharmos para os modelos mais matriculados para o setor profissional (+100cv) nestes primeiros cinco meses do ano, destacam-se um trio da John Deere – 6120M (25 unidades), 6155M (9) e 6130M (8) – além do Massey Ferguson 5713M (6).



A visão dos representantes

Falámos com três representantes das marcas acerca do panorama atual no mercado dos tratores, das expetativas para o próximo semestre e do Novo Plano para Abate de Tratores. Com escalas de classificação de "muito desfavorável" a "muito bom" e de "diminua" a "cresça" obtivemos as opiniões seguintes.

Bruno Pignatelli (Gerente da Tractores Ibéricos)
“Apoio pouco ambicioso, bastante limitativo e vem com atraso”

Considera que o negócio de venda de tratores novos está...
Desfavorável. Encontramos duas razões principais, uma de origem externa, ou seja, existe uma quebra generalizada do mercado, 30% em Maio vs 2022, e outra interna, pois estamos com vários tratores já vendidos a clientes finais e a Kubota continua com atrasos nas entregas em determinados modelos.
Espera que o volume de negócios dentro de 6 meses...
Se mantenha estável. Pensamos que a quebra não se acentuará e, como tal, deveremos manter os volumes mensais de 2023 (no nosso caso esperamos recuperar os atrasos já referidos).
Que avaliação faz ao novo Plano para Abate de tratores?
Vem com atraso, pouco ambicioso e bastante limitativo, mas pode alavancar um pouco as vendas.

Arnaldo Caeiro (Diretor Geral da SDF Portugal)
“Plano de abate de tratores ficou aquém do esperado e do necessário”

Considera que o negócio de venda de tratores novos está...
Muito desfavorável. As razões devem-se à baixa considerável do mercado total devido aumento do preço dos tratores (lançamento dos motores Fase V e aumento e custos de produção em 2022), ao ambiente económico global desfavorável (inflação generalizada e aumento da taxa de juros), à situação de seca no sul da europa e à falta de apoios do Ministério da Agricultura.
Espera que o volume de negócios dentro de 6 meses...
Diminua. É esperada uma queda do mercado, não tão acentuada como até à data, no 2º semestre de 2023 pela razões indicadas anteriormente.
Que avaliação faz ao novo Plano para Abate de tratores?
O Plano de Abate de tratores ficou aquém do esperado e do necessário devido à redução da percentagem de comparticipação na aquisição do novo trator, ao valor elegível do custo do novo trator, em €/kW, que não teve em conta os aumentos de preço em 2021 e 2022 e aos critérios de pontuação das candidaturas que não são adequados ao tipo de tratores que mais se vende no mercado português. Já o período de submissão das candidaturas, de apenas um mês, é curto, mas, se considerarmos que o processo de submissão da candidatura é simples, esperamos que todos os interessados consigam dar entrada ao seu processo.

Nuno Santos (Diretor comercial do Entreposto Máquinas)
“O mercado registou uma queda pior do que as nossas expetativas”

Considera que o negócio de venda de tratores novos está...
Desfavorável. O mercado registou uma queda forte, na ordem dos 30%, pior do que as nossas expetativas, mais acentuada nos segmentos convencionais e especializados. Esta queda é o reflexo da conjuntura económica atual e das fracas expetativas dos clientes que levou a uma retração do investimento.
Espera que o volume de negócios dentro de 6 meses...
Cresça. Deverá haver uma recuperação relativa dos números de mercado apesar de julgarmos que os números finais do ano irão traduzir uma queda (menor) do mercado de 2023 relativamente ao de 2022. Até porque a segunda metade do ano transato já foi tendencialmente de queda, os investimentos não podem ser indefinidamente adiados e porque o programa de incentivos governamentais irá ter uma contribuição positiva. Esperamos que o abrandamento da inflação e a melhoria relativa do clima económico contribua para atenuar a queda final dos números do nosso mercado.
Que avaliação faz ao novo Plano para Abate de tratores?
Qualquer programa que incentive o nosso sector é bem-vindo e terá sempre um impacto maior ou menor, mas positivo. Verificamos que os limites de comparticipação, constituem uma limitação ao alcance que poderia ter, bem como o critério geográfico de aplicação/apreciação é algo limitativo. Por outro lado, abriu-se o programa a tratores de maior potência (apesar da limitação unitária de 50 k€) o que permitirá beneficiar outras áreas de atividade. Avaliação positiva, mas com espaço para se fazer mais e melhor.

 

Reboques

O mercado dos reboques agrícolas continua a melhorar os números de matriculados em relação ao período homólogo do ano passado, sendo que a quebra é agora praticamente residual: entre janeiro e maio deste ano foram matriculados 676 reboques, menos 27 (-3,8%) do que no mesmo período de 2022. Entre as quatro marcas com mais matriculações, só a Herculano é que tem um número inferior de registos em relação a 2022 (quebra de 46%), sendo que a Galucho mantém o ritmo acelerado no topo da tabela, com 197 reboques matriculados (+35,9%), mais 52 do que a Rates, segunda marca que também superou a barreira dos 30% em crescimento em relação há um ano. Além da Galucho e da Rates, também a Joper consegue estar melhor – matriculou mais 16 reboques do até ao fim de maio de 2022 -, mas a bipolaridade no topo continua a ser uma realidade: se em março deste ano, Galucho e Rates detinham 55,02% do total de matriculações, no final de maio ainda continuam a ter a maioria (50,59%).

 

CF Moto domina nos ATV e BRP mantém 'fuga' nos UTV
Numa análise ao mercado de vendas de ATV’s (Veículos todo-o-terreno) e UTV’s (Veículos utilitários multitarefas) nos primeiros cinco meses de 2023, a CF Moto fortaleceu a posição de líder de vendas de ATV, aumentando o crescimento em relação ao período homólogo do ano anterior para 59,42%: matriculou 220 veículos (58 em maio), mais 82 do que em igual período do ano passado, e passou a ter mais 24 do que a Linhai, que fora líder do segmento em 2022. Já nos UTV, a canadiana BRP está cada vez mais longe da concorrência: regista, no fim de maio, 89 unidades, mais 24 do que a CF Moto e 35 do que a Polaris. Por fim, nota para o bom registo nas vendas dos UTV, ainda que mantenha a tendência de quebra desde março (34,74%); e para a melhoria nos ATV (6,91%) em relação aos números entre janeiro/maio de 2022.

Quebra de 17,24% no mercado em Espanha
O Ministério de Agricultura, Pesca e Alimentação (MAPA) de Espanha divulgou os dados relativos ao registo de tratores agrícolas no país nos primeiros cinco meses de 2023 e os números registaram uma ligeira melhoria em relação a abril (quebra 20,43%). Foram matriculados 3.307 tratores agrícolas entre 1 de janeiro e 31 de maio, o que representou uma quebra de 17,24% em relação ao período homólogo do ano passado (3.996), segundo a Revista espanhola Profesional Agro.

Se nos cingirmos apenas ao mês de maio, a quebra situa-se nos 4,23%, pois foram matriculados 770 tratores, menos 34 do que em 2022 (804). Já contabilizando o universo total de maquinaria agrícola em Espanha entre janeiro e maio deste ano, os dados são igualmente negativos mas aqui, já de forma residual: os registos oficiais revelam 12.721 unidades matriculadas, menos 2,74% (mesma percentagem de abril) do que as 13.079 entre janeiro e maio de 2022.

Barómetro de negócios da Associação Europeia de Maquinaria Agrícola (CEMA)
Junho de 2023 – Clima de negócios piorou ainda mais

O índice geral do clima de negócios para a indústria de máquinas agrícolas na Europa caiu para o nível mais baixo desde a quebra provocada pela pandemia, embora ainda se encontre num nível equilibrado. Em junho de 2023, o índice caiu de 11 para 1 ponto positivo (numa escala de -100 a +100). Depois de alguma flexibilidade do lado da oferta, as incertezas continuaram a aumentar no mercado e os níveis de confiança diminuem proporcionalmente. Juntamente com a deterioração das avaliações para os negócios atuais, os representantes da indústria reduziram ainda mais as suas expectativas em relação ao futuro.

As diferenças dentro dos segmentos e regiões aumentaram: se o clima na pecuária e equipamentos de colheita ainda se encontra num nível positivo, já o dos tratores e equipamentos agrícolas, entre outros, caiu claramente em território negativo. Além disso, ainda existe uma maioria moderada de representantes de empresas com expetativas de volume de negócios positivos para alguns grandes mercados, como França e Alemanha, o que já não acontece nos mercados de Itália e Polónia, em que a confiança caiu a pique. Para a contabilidade geral de 2023, os participantes da pesquisa ainda esperam um leve aumento médio na faturação das respetivas empresas, entre outros fatores, devido à elevada faturação alcançada no início do ano motivada pela redução da carteira de pedidos dos fabricantes.

 

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