Feiras e Eventos
FNA 2023: maior área de maquinaria agrícola, o ovo como superalimento e sem convites ao Governo
16/05/2023
O Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas acolheu, no seu Estúdio, a conferência de imprensa de apresentação da Feira Nacional da Agricultura 2023, um evento com o Ovo como tema central mas com várias novidades, inovações e eixos temáticos. Luís Mira, administrador do CNEMA, informou ainda que o certame já não conta com quaisquer limitações devido ao Covid-19 e que a organização não fará qualquer convite a membros do Governo por uma questão de coerência.
O Estúdio do Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA) foi o local escolhido para a realização da Conferência de Apresentação da 59ª edição da Feira Nacional da Agricultura - 69ª edição da Feira do Ribatejo -, na qual estiveram presentes o Engº Luís Mira (Administrador do CNEMA), Ricardo Gonçalves (Presidente da Câmara Municipal de Santarém), Nuno Russo (Vereador da CM Santarém), Domingos Chambel (Presidente da Nersant - Associação Empresarial da Região de Santarém) e Paulo Mota (Presidente da ANAPO - Associação Nacional dos Avicultores Produtores de Ovos). Luís Mira tomou as rédeas da conferência, explicou as expectativas que existem para uma edição que, pela primeira vez desde o Covid-19, não terá limitações e abordou vários temas importantes como os superalimentos a evidenciar no certame - com o Ovo a centrar atenções - as novidades apresentadas ou mesmo a ausência de convite feito a membros do Governo e, como não poderia deixar de ser, as reticências apresentadas por algumas marcas e agricultores em relação ao facto de FNA e Agroglobal se realizarem no mesmo local e ano.
Exposição de maquinaria semelhante à de 2019
Para Luís Mira, esta FNA2023 é, para as empresas do setor agrícola, um recomeço. "Em relação a expositores, o cenário é muito semelhante ao que aconteceu em 2019, embora possa sempre haver acertos de última hora. Os expositores de maquinaria estão aqui porque fazem negócio e até à pandemia, tínhamos vindo a aumentar a área de exposição de equipamentos e maquinaria todos os anos. O setor agrícola sofreu depois uma pancada brutal e vamos começar outra vez. É uma área bastante boa, alguns expositores optaram por estar presentes na Agroglobal, que se realiza este ano também, mas quem vier à Feira não vai arrepender-se", explicou o Administrador do CNEMA, mostrando-se compreensivo em relação ao facto de haver marcas que entenderam não estar na FNA para marcarem presença na Agroglobal, em setembro: "É normal que isso aconteça, pois as marcas e as empresas têm de fazer as suas opções, há um tipo de agricultores que vem à FNA e não tem possibilidade de ir à Agroglobal, uma feira estritamente profissional e feita em dias de semana. A FNA tem 69 anos, reúne um conjunto de agricultores que vem aqui nos fins-de-semana e nos feriados porque vem cá comprar coisas porque senão os expositores não estavam cá. Muitos destes agricultores não têm a sua organização de vida capaz de lhes permitir vir cá durante a semana e aproveitam para visitar a feira com a família, mas fazem compras, porque se vendem aqui tratores e outros equipamentos."
Sem convites a membros do Governo como forma de protesto
"Queria aproveitar para deixar um tema aqui bem claro: não vamos ter a presença de membros do Governo porque todos conhecem a posição do setor agrícola relativamente à política que tem sido seguida e o descontentamento que existe em relação à mesma, pelo que não fazia sentido estar a convidar alguém ligado ao Governo." Foi desta forma que Luís Mira começou por revelar que a organização da Feira Nacional da Agricultura resolveu tomar esta decisão. Por um motivo que considera ser muito simples. "Seria uma incongruência para com os agricultores e demais representantes do setor, as pessoas das máquinas e equipamentos, e devemos ser coerentes com aquilo que defendemos. O sr Presidente da República fará a inauguração da Feira no primeiro dia (3 de junho), ainda com hora a designar", disse, considerando que esta ausência de convite é igualmente uma forma de protesto.
Se a Ministra da Agricultura decidir ir à FNA2023, Luís Mira explica que ninguém o poderá impedir, naturalmente. "Há muitas formas de protesto, esta é mais uma. Não é só com manifestações que se protesta. Esta é uma forma de dizer bem alto que o setor está descontente com a atuação do Governo relativamente às políticas seguidas. E nós não podemos estar descontentes à 2ª feira e ficarmos contentes à 3ª feira, a coerência tem custos. [Se a Ministra da Agricultura quiser vir] É uma hipótese académica. Costuma-se dizer que a casamentos e batizados, não vás quando não és convidado. Obviamente que se vierem cá, pagarem bilhete e não vierem com convite a membro do Governo, é uma questão institucional. Chega ali à porta, paga o bilhete e pode andar na feira enquanto cidadã, enquanto entender. Nós não podemos é responsabilizar-nos pelas reações que pode encontrar aqui dentro. Se a própria Ministra da Agricultura não tem noção da contestação e do desagrado que existe no terreno, pois essa é uma questão que ela terá de avaliar. A Organização da Feira tomou esta decisão em coerência e em solidariedade para com o setor e é isso que vai fazer [não convidar ninguém do Governo] por entender que é mais uma forma de protestar. O não haver um convite ao Governo pode ser tão forte como uma manifestação, mas acaba por ser ainda mais porque são nove dias a falar-se da Feira e a chamar à atenção para os problemas do setor agrícola. Uma manifestação é feita, normalmente, num dia."
FNA e Agroglobal no CNEMA: as diferenças
abolsamia questionou ainda o Administrador do CNEMA sobre uma das dúvidas que pairam na cabeça de todos os intervenientes do setor agrícola. Afinal, a nova edição da Agroglobal no CNEMA vai ou não ser muito parecida à FNA?
"Na nossa cabeça, a nível de estrutura espacial e a forma como vai decorrer a feira, a Agroglobal nada terá a ver com a FNA. É a mesma coisa que dizermos que a Feira da Caça, por se realizar no Cnema, vai ser igual à Feira da Agricultura, não é verdade. As pessoas do setor estão na dúvida sobre o que vai acontecer mas só há uma forma de o saber: é virem à Feira para verem. Não há outra resposta mas é óbvio que vai ser totalmente diferente. Naturalmente que a Agroglobal, em Valada do Ribatejo, quem foi lá, viu como era, quem não foi, nunca mais vê. Não é repetível. Da mesma forma que a FNA, quando veio para aqui, não foi nunca mais igual ao que era no Campo Emílio Infante da Câmara. Não vale a pena as pessoas virem à procura aqui de uma Agroglobal como era em Valada do Ribatejo", disse.
"Agora, nada vai ter a ver com a FNA, pois vai contar com campos de demonstração e terá públicos diferentes. Na Feira Nacional da Agricultura, 70% das pessoas que cá vêm são consumidores e 30% são agricultores ou têm alguma ligação à agricultora. Na Agroglobal, vão ser 100% profissionais ou eventualmente poderá haver alguém com um convite de um expositor. Uma empresa que queira comunicar com o consumidor, tem de vir à FNA, se quiserem só comunicar com o setor e a parte profissional, venham à Agroglobal", indicou.
Resolver problemas como a seca
A forma de protesto para com o Governo adotada nesta edição da FNA está relacionada com o desagrado geral do setor agrícola para com as políticas que são tomadas e Luís Mira dá um exemplo muito concreto. "São os políticos que se aproveitam da feira e não a feira que se aproveita dos políticos. A grande maioria dos políticos que vem à feira acaba a falar, por exemplo, da TAP ou de outro assunto do momento, mas nunca fala sobre o problema agrícola ou as questões que ouviram aqui, a seca ou o problema das máquinas. E se eles vêm cá para sentir o pulso aos problemas que lhes fazemos ver e depois a insensibilidade para os resolver é total… por exemplo, na questão da seca, estamos agora exatamente no mesmo ponto em que estávamos no ano passado. Não se fez nada estruturalmente. Aquilo que agora o Governo vai fazer é reunir a Comissão da Seca, que já se reuniu 13 vezes desde 2015, e o que toma são medidas para poupar água, para proibir ou limitar. Isso não resolve o problema", lamenta.
E tratou ainda de ser mais profundo nesta análise sobre a seca em Portugal. "Portugal tem condições e disponibilidade de água, desde que a utilize racionalmente. A água dos nossos rios, a grande maioria dela vai parar ao mar. A água que o Tejo libertou na chuva de dezembro dava para regar centenas de milhares de hectares. Só para ter uma ideia, a Espanha já tem um plano de fundo estruturado que Portugal tem pensado desde a década de 50 do século passado, a autoestrada da água. Nós temos de levar a água de onde chove para onde não chove, para Trás-os-Montes, para a Beira Interior, para o interior do Alentejo porque, mesmo com as alterações climáticas, daqui a 50 anos vai continuar a chover a norte do País. Os cientistas têm isso completamente identificado. Existem planos da década de 50 do século passado, tivemos 80 anos para fazer isso e nunca foi feito. A única obra estrutural que se fez em Portugal nos últimos anos foi o Alqueva mas até esse, vamos dizer a verdade, teve um projeto de 25 anos para se construir. Aí se vê a vontade que existe para construir. E depois acabou por se construir em 15 anos porque houve necessidade de utilizar as verbas que não se tinham executado dos fundos de coesão e uma parte do setor agrícola para concluir a obra em 2015, senão hoje ainda o Alqueva não estava feito. Portanto, Portugal tem fundos que disponibilizaram do Programa de Recuperação e Resiliência e termos resiliência para a água era muito importante para o país. Espanha colocou 25,5 mil milhões de euros num plano de uso eficiente da água, Portugal pôs 300 milhões. Quando terminar o PRR, estaremos mais atrasados do que quando o plano começou."
O Ovo como superalimento e os outros superalimentos
Sobre o tema central da FNA2023, o Ovo, “a escolha deste alimento está relacionada com a atual preocupação da sociedade com uma vida saudável, sendo o que comemos um fator determinante para esse objetivo. O ovo contém caraterísticas como teores elevados de vitaminas, minerais e fibras que lhe permitem ser classificado um superalimento e está presente na alimentação no mundo inteiro”.
"Haverá novidades como exposições de empresas relacionadas com o Ovo - na Produção, Transformação e Distribuição. Teremos ainda um renovado espaço próprio para os bares e concertos, de forma a proporcionar maior conforto a todos os visitantes da Feira e propomos um aumento da oferta gastronómica durante os 9 dias da Feira. Em relação ao tema da sustentabilidade, vamos disponibilizar copos reutilizáveis por 1,50€, encontrarão ecopontos em todo o recinto e haverá autocarros gratuitos de transporte para a feira, em que pelo menos um deles será elétrico", explicou Luís Mira, finalizando com a novidade do... Eggcident: uma arte plástica do internacionalmente reconhecido artista holandês Henk Hofstra, que já esteve patente em várias cidades do Mundo como Roterdão, São Petersburgo, Santiago do Chile ou Wuhan, e que consiste numa exposição de ovos estrelados gigantes que aquecem com o calor, servido de alerta para o tema das alterações climáticas.
Ricardo Gonçalves, presidente da CM Santarém, enalteceu, por fim, o dia 7 de junho, dedicado a Santarém e levantou um pouco da ponta do véu sobre o tema que poderá versar a edição da FNA de 2025 e que toca no que é visto cada vez mais como um novo superalimento: os insectos. De 3 a 9 de junho, sem limitações pela primeira vez desde o Covid, Santarém espera por todos os amantes do setor agrícola no CNEMA.