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A visão dos representantes das marcas

26/03/2024

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Com base nas análises fornecidas pelos representantes das marcas de máquinas agrícolas em Portugal, podemos fazer as seguintes avaliações sobre o mercado português de máquinas agrícolas:


Tendência negativa do Mercado: A maioria dos representantes concorda que o mercado de máquinas agrícolas em Portugal, assim como na Europa, enfrentou uma tendência negativa em 2023, influenciada por fatores como os efeitos pós-pandemia, tensões geopolíticas globais, aumentos nos preços e juros, e condições climáticas desfavoráveis, como a seca.

Segmentos diferentes, comportamentos diferentes: Observa-se uma segmentação no mercado de tratores, com uma tendência de crescimento em algumas faixas de potência, particularmente em tratores mais potentes. Tal pode ser atribuído à evolução tecnológica das máquinas agrícolas, procurando aumentar a eficiência e a produção.

Particularidades do mercado português: O Barómetro do CEMA aponta para uma recessão profunda e elevado stock nos concessionários. A maioria dos representantes concorda com o cenário, embora alguns sugiram que a situação em Portugal pode ser diferente de outros mercados europeus devido a fatores como a estabilidade do rendimento agrícola e o acesso ao crédito.

Perspetivas para 2024: As perspetivas para 2024 são mistas, com alguma incerteza devido ao cenário político, social e económico. No entanto, alguns representantes expressam otimismo, citando oportunidades de crescimento, especialmente nos segmentos mais profissionais e a partir do segundo semestre do ano, com potencial para investimentos e dinamização do mercado agrícola em Portugal.

Adaptação e resiliência das empresas: As empresas estão a demonstrar capacidade de adaptação e resiliência diante dos desafios do mercado, concentrando-se em estratégias como diversificação de produtos, fortalecimento do relacionamento com os clientes, investimentos em inovação e desenvolvimento de produtos, e a explorar novos mercados.

 

A todos colocámos as seguintes questões

1- O ano de 2023 terminou com uma quebra de sensivelmente 9% face a 2022 (que também tinha tido uma quebra de 3% face ao ano anterior) nas matrículas de tratores. Que balanço faz?

2- E nos seguintes segmentos de potência: abaixo de 50 cv, de 51 a 120 cv, de 121 a 200 cv e acima dos 201 cv?

3- O Barómetro da Associação Europeia de Fabricantes de Máquinas Agrícolas (CEMA), que atingiu níveis de recessão profunda, 50 pontos negativos, aponta o elevado stock nos concessionários e uma baixa procura por parte do cliente final como um dos principais motivos de desconfiança em vários mercados europeus. Este cenário também se verifica em Portugal?

4- Quais as perspetivas para 2024?

 

José Ignacio Vega, diretor geral da CLAAS Ibérica

José Ignacio Vega, diretor geral da CLAAS Ibérica

1 - Na verdade, a tendência do mercado, não só nos tratores, é negativa no geral. Esta situação não ocorre apenas em Portugal, mas também na Península Ibérica e em toda a Europa. Temos que continuar considerando que os efeitos pós-pandemia produziram uma desordem muito grande em todas as cadeias de produção, comercialização e consumo. Se somarmos outros fatores negativos como as tensões geopolíticas globais, a subida dos preços e dos juros, a seca dos últimos três anos, etc. poderíamos afirmar que vivemos uma das piores situações para os negócios. Contudo, esta não é a forma de encarar o futuro e temos de considerar um ponto de vista mais otimista. Se analisarmos a resposta dos fabricantes, importadores, distribuidores e clientes, observamos o elevado grau de adaptação e resiliência de todos eles.

2 - Aqui temos outro ponto positivo que complementa a resposta anterior. Considerando o mercado como um todo admitimos uma queda nas matrículas de tratores. Mas se segmentarmos em potências observamos crescimento em alguns grupos. Embora seja muito cedo para confirmar, vemos uma tendência de crescimento no número de cv por trator. Facilmente podemos verificar que o segmento <=50cv, os chamados minitratores, está a diminuir dando lugar a tratores mais potentes. Acho que vai continuar nesse caminho. As principais causas baseiam-se na evolução lógica das máquinas agrícolas no campo. Cada vez mais potentes, mais tecnológicas e começando a ser mais digitais, todas procurando aumentar a eficiência e a produção. Embora eu esteja seguro de que essa mudança está a acontecer, ainda teremos que esperar algum tempo. Por exemplo, precisamos de esclarecer qual é o efeito dos subsídios nesta questão.

3 - Sim, isso faz parte da situação de desordem que mencionei no início. Leva tempo para resolver esses problemas. Por um lado, as fábricas tiveram de responder ao excesso de procura e, posteriormente, encontrar o equilíbrio com as necessidades do mercado. Por outro lado, em 2022 registaram-se vários aumentos nos preços das matérias-primas e produtos acabados que foram muito elevados e geraram receios e em alguns casos abordagens especulativas. Tudo isto levou a uma situação de desmotivação dos empresários europeus, que respondem ao inquérito do Barómetro, e ao pessimismo quanto à libertação destes stocks. É preciso dizer também que esta situação não ocorre igualmente em todos os países, marcas, concessionários, etc.

4 - Com base na resposta do CEMA, parece que enfrentamos um ano difícil. Agora está ainda mais complicado pelos protestos dos agricultores em vários países. No fundo, todos exigem ou exigimos o regresso à normalidade o mais rapidamente possível. Mas reitero mais uma vez o meu ponto de vista: vivemos uma situação temporária e reversível e da qual dentro de alguns anos falaremos como parte da história. Mando uma mensagem ao leitor e a quem se interessa pela Agricultura: com entusiasmo e esforço conseguiremos devolver ao Campo o grande valor que ele tem.

 

Rui Domingos, diretor geral da unidade de negócio agrícola (Hurlimann, LS e Iseki) da Moviter Equipamentos S.A.

1 - Se analisarmos as matrículas até outubro de 2023 a quebra do mercado situava-se em cerca de 19%. Esses são os números ‘normais’ de 2023 e é a esses números que nos devemos habituar. Os projetos de abate, nos meses de novembro e dezembro, vieram dar algum alento ao mercado e permitiram um crescimento, face a 2022, de cerca de 60%.

2 - Nos tratores até 50 cv, os únicos que cresceram foram os com menos de 25,5 cv. Todos os outros registaram uma grande queda. Como disse anteriormente, nos meses de novembro e dezembro houve um incremento muito forte nos tratores compactos entre 50 e 60 cv e que ainda se fez sentir no início de 2024. Nos tratores acima de 60 cv também houve um aumento nas vendas no mês de novembro e dezembro e o mesmo nas potências de 70/80 cv. Estes números são reflexo de programas de apoio, neste caso, com os incentivos à troca de tratores (PROGRAMA ABATE). Nas restantes potências, acima de 80 e até 200 cv, houve uma quebra muito acentuada. A exceção aconteceu nos tratores entre 200 e 250 cv.

3 - A situação em Portugal é a mesma que se passa nos outros mercados. O problema dos stocks, nos representantes e nos concessionários, foi comum em, praticamente, todos os agentes.

4 - É sempre difícil prever o que vai acontecer no mercado e no país. A instabilidade no setor da agricultura em toda a Europa, com as manifestações dos agricultores, abala todo o mercado. É um ano de várias eleições e é difícil prever cenários. Sabemos que as dificuldades vão continuar. É a única certeza que podemos ter. O pacote agora anunciado pela Ministra da Agricultura pode ajudar a mitigar alguns problemas, mas há na nossa Agricultura um problema estrutural e de dimensão que ninguém até hoje conseguiu resolver. A tendência deve manter-se: maior volume de negócio na agricultura profissional (tratores de grandes potências) e na agricultura de hobby (tratores pequenos). A Moviter é uma marca reconhecida no nosso mercado, com marcas consolidadas e uma rede de concessionários bem identificada com a empresa e com o produto. A idoneidade e a história são os nossos maiores ativos. A resiliência de todos (empresa e concessionários) permite-nos continuar a trabalhar, sem grandes expetativas, mas também sem receios. Tentamos ser otimistas.

 

João Bizarro, diretor comercial Tratores na CNH Industrial

 1 - Um ano completamente atípico. Desde logo porque deixámos de ser a marca que mais tratores matriculou e isso é raro para nós desde os últimos 24 anos.

O primeiro semestre de 2023 foi a continuação dos últimos seis meses de 2022, com uma queda abrupta nas vendas. O segundo semestre teve um aumento substancial no volume de vendas, baseado no aumento da procura de agricultores profissionais e projetos de renovação do parque de máquinas.

2 - A potência média por trator vendido em Portugal baixou drasticamente na última década. Infelizmente mais de 50% do volume total de tratores vendidos no nosso país estão abaixo dos 50 cv. Esta realidade beneficia fabricantes de mais baixas especificações e/ou origens de produção mais baratas como sejam a Índia ou a China.

Na gama média dos 50 aos 120 cv é o exemplo claro do ano atípico. Retração no primeiro trimestre, aumento no segundo. Finalmente os agricultores profissionais, mais de 120 cv, voltaram a investir. Triplicámos as vendas no segmento de maior potência.

3 - Desde o último trimestre de 2022 que estrategicamente decidimos baixar os stocks de concessionários. Tínhamos convicção que o mercado em 2023 seria mais baixo e conjuntamente com o aumento do custo do dinheiro traria maiores dificuldades ao negócio.
Parece-nos que o cenário descrito se verificou em Portugal, mas felizmente não se passou com a nossa marca.

4 - Muito semelhante ao de 2022. Um primeiro semestre com aumento no volume de matrículas e um segundo semestre com ligeira retração. Aumento de vendas em todos os segmentos acima dos 50 cv. Muito especialmente nos segmentos profissionais. Fruto do alargamento da gama total e do reconhecimento da qualidade junto dos agricultores profissionais estamos seriamente convictos de que será um bom ano para a marca New Holland em Portugal.

 

João Pimenta, diretor geral na Ascendum Agro

 1 - O ano 2023 foi um ano de queda de mercado superior ao que antecipámos no final de 2022 já que esperávamos uma ligeira queda, inferior a 5%, e o ano terminou com quase o dobro, sendo que durante três trimestres a queda cifrou-se acima dos 20%. Depois veio a recuperação no último trimestre que muito se deve à execução do Plano de incentivo ao abate.

2 - No segmento acima ou igual a 53 cv o mercado subiu 6,3% em relação a 2022 (2207/2347 unid.) sendo que o segmento que mais cresceu foi o abaixo dos 25 cv com 16,5% de subida. No segmento dos 54 aos 120 cv o mercado caiu 18,3% em relação a 2022 (2993/2443 unid.) sendo que o segmento de 81-100 cv caiu 49,9% e o segmento dos 100-120 caiu 16,8%. No segmento dos 121 aos 200 cv o mercado caiu 13.2% em relação a 2022 (468/406 unid.) sendo que o segmento dos 121-150 cv registou uma queda de 15,4%.
Acima dos 200 cv: este foi um dos segmentos de mercado que registou maior subida 41% (127/90 unid.) tendo contudo um peso no mercado total de apenas 2,4%.
Finalmente, se considerarmos o mercado acima dos 80 cv, este sofreu uma queda em 2023 de 26%! bem superior aos 9% do mercado total, o que significa que a agricultura profissional apresentou uma fortíssima queda na procura.

3 - Exactamente, dada a inesperada queda tão acentuada do mercado no segmento profissional, os Distribuidores e Concessionários sofreram todos um impacto negativo nos stocks pois não foi possível escoar os pedidos programados com as fábricas.

4 - Para 2024, as perspetivas são de muita incerteza derivada:
• do clima político - Governo em gestão corrente - à espera de eleições;
• social - comunidade dos agricultores europeus em luta aberta por melhores compensações dada a concorrência desleal que outros mercados extra comunitários com muito menos exigências ambientais fazem;
• económico-financeiro - taxas de juro ainda muito altas e co-pagamentos abaixo das expetativas dos agricultores e o elevado preço dos equipamentos faz com que não seja possível ver a luz ao fundo do túnel.

 

José Luis Rodrigues, Territory Business Manager na John Deere Ibérica, S.A

1- Do ponto de vista de mercado total e para a John Deere, não é estranho que o mercado de tratores esteja a sofrer uma certa retração nos últimos anos. Ainda assim, pensamos que o comportamento do mercado não vai ser igual em todos os segmentos e estamos convencidos que nos segmentos mais profissionais, em concreto nos tratores de maior potência, possa até haver um crescimento de mercado nos próximos anos. Esta previsão está sustentada pela diminuição contínua do número de explorações agrícolas em Portugal e ao mesmo tempo pelo aumento do seu tamanho, tanto em volume de negócio como em área de trabalho. Está em marcha um processo de profissionalização da agricultura portuguesa que acaba por ditar as tendências do mercado!

Analisando apenas o ano 2023, o mercado total de tratores teria uma queda ainda maior face a 2022 se não ocorresse a recuperação dos últimos três meses do ano, que como sabemos foi fortemente influenciado, pelo programa de Renovação do Parque de Tratores, também denominado programa de “Abate”.
Para a John Deere, o ano 2023 foi um ano muito positivo em Portugal porque crescemos tanto em quota de mercado como em volume de negócio nos segmentos destinados à agricultura profissional, que como sabemos é o principal foco da Companhia na Europa.

2 - Para a John Deere, analisamos o mercado em três grandes segmentos de potência (<100 cv; 100-150 cv e >150 cv), sendo que os dois segmentos de mercado acima dos 100 cv é onde se encontra a agricultura mais profissional.
Analisando o mercado abaixo dos 100 cv, onde muitas vezes a agricultura não é a principal atividade do cliente, mantivemos o mesmo volume de negócio e matrículas do ano de 2022.
Nos segmentos acima dos 100 cv, a implantação da agricultura de precisão e a profissionalização da rede de concessionários permitiu-nos considerar que o ano 2023 tenha sido uma história de êxito da marca no país. De forma mais concreta, no que respeita ao segmento 100-150 cv e retirando a pequena parcela de especiais neste segmento, o ano 2023 foi muito positivo para a John Deere porque crescemos de forma significativa em quota de mercado, consolidando a posição de líderes neste segmento com aproximadamente 30% do mercado nacional.

Analisando o segmento acima dos 150 cv, também consideramos que foi um ano mui-to positivo porque num mercado crescente a John Deere é líder indiscutível, com uma quota de mercado muito próxima dos 50%. Esta liderança coloca-nos como marca numa excelente posição para levar a cabo toda a estratégia de agricultura de precisão, permitindo aos nossos clientes uma maior rentabilidade do seu negócio.  
Em resumo, a John Deere considera que os resultados do ano 2023 foram muito bons, porque consolidou a sua posição de líder indiscutível no mercado da agricultura profissional em Portugal.

3 -  De momento, este cenário não se verifica em Portugal. Por um lado o rendimento agrícola de alguns setores chave da agricultura portuguesa, como por exemplo a produção de leite e de azeite continuam fortes. Em segundo lugar, a abertura do programa de abate de tratores em finais de 2023, está a permitir um elevado apoio aos agricultores. Em terceiro lugar, o acesso ao crédito continua estável. Por todas estas razões consideramos que o estado do mercado em Portugal é diferente do resto da Europa, principalmente nos segmentos mais profissionais cujos agricultores e criadores de gado continuarão a investir na profissionalização das suas explorações. De forma mais concreta, é possível que o programa de abate contribua de forma ainda significativa neste primeiro semestre do ano e, possivelmente, na segunda metade do ano voltaremos a uma estabilização dos mercados.

4 - De momento não estamos a antecipar queda nos mercados. Dispomos de uma rede de concessionários muito sólida e profissional que tem a capacidade de se adaptar às circunstâncias dos mercados. Como estamos muito focados nos mercados profissionais, também analisamos a evolução do mercado do ponto de vista do rendimento agrícola e, neste capítulo, prevê-se que o azeite mantenha preços altos, que ocorra uma certa recuperação do setor nos criadores de gado e em outras atividades agrícolas em Portugal. Por estes motivos, esperamos que a visão pessimista proveniente dos mercados europeus, não tenha tanto impacto no mercado de tratores a nível nacional.

 

Josep Ventura, Export Area Manager na Antonio Carraro SpA

 1- As quebras que estamos a viver são generalizadas em toda a Europa e respondem a uma “regularização” dos mercados. No caso do segmento onde a Antonio Carraro está orientada (compactos e especializados) tivemos anos de fortes vendas impulsionadas de forma importante pelas mudanças das normativas de emissões dos motores.

Neste momento, os stocks são todos de produto da Fase V com valores significativamente elevados e o seu posicionamento não está a ser aceite com o mesmo volume pelo mercado, que está muito polarizado: ou produto muito básico ou muito especializado.

3 - No nosso caso, a rede portuguesa iniciou 2023 com stocks elevados mas foram regularizados ao longo do ano. Neste momento, a nossa rede encontra-se com os stocks normais para um volume de atividade normal. A baixa procura é geral mas no caso português tem um elemento catalisador, como são os projetos. Já no fim de 2023 vimos como jogaram um papel fundamental para que a quebra não fosse maior.

4 - Esperamos um 2024 cheio de desafios. Na Antonio Carraro  temos vindo a desenvolver novos produtos, cada vez mais profisisonais, ao longo de anos, ampliando a nossa gama de variação contínua, melhorando as gamas profissionais a partir dos 70 cv e, por último, os acordos para dispor de produtos tipo fruteiros/vinhateiros tradicionais.
Todas estas estratégias estão a dar os seus resultados e estamos convencidos que vão encontrar neste 2024 uma boa aceitação. O bom nível profissional da agricultura especializada fez com que Portugal participasse nos testes de validação de produto de alguns modelos. Este conjunto faz com que novos agricultores, empresas agrícolas e conces-sionários mostrem o seu interesse na nossa marca. Isto traz-nos uma forte confiança para 2024.

 

Nuno Santos, diretor comercial do Entreposto Máquinas

1- De facto, o ano de 2023 carateriza-se por duas fases distintas:
uma primeira fase, Q1, Q2 e Q3 de retração, em que os clientes ponderaram bem os seus investimentos; e um Q4 em que havendo resposta ao programa de abate e substituição de tratores antigos, existiu uma procura real e muito acima dos valores anteriores. Acabamos por sentir que a quebra de 9% não reflete o ano comercial de 2023.

3- Em 2023, tínhamos stock encomendado durante o período de “pandemia”, que demoraram a entregar por parte dos fabricantes, e que acabou por ser algo excessivo e que demorou a regularizar.

4- Para o Entreposto Máquinas, o atual ano de 2024, arrancou ligeiramente acima do que é habitual e registado em anos anteriores, mas a sentir-se algum decréscimo comparado com os números registados em Novembro e Dezembro de 2023. Depois de serem “fornecidos” todos os clientes que pretendem substituir os tratores antigos, estou em crer que os meses seguintes serão de retração.

 

Tomás Rocha, administrador do Grupo Auto-Industrial

1- Era uma quebra esperada, face aos sinais que tínhamos, nomeadamente pelos aumentos das taxas de juros e preços dos tratores, aliado ao facto do primeiro semestre de 2022 ter sido o mais forte dos últimos três anos, essencialmente pela maior disponibilidade de produto desde a pandemia, que comparado com igual período de 2023 registou uma quebra na ordem dos 26%.

No entanto, o relançamento de um programa de renovação do parque de máquinas (tratores com mais de 10 anos) foi finalmente “libertado” em outubro o que fez aumentar as vendas no último trimestre e de alguma maneira minorar a quebra fixando-se nos 9%. Outros fatores podem também ter contribuído para esta recuperação nomeadamente o aumento do rendimento de culturas como o tomate, a azeitona e a produção de carne.

2 - Houve uma quebra de 7,4% no segmento de ≤50cv, sendo que dentro deste segmento houve um crescimento nos tratores ≤26cv (13,2%) e 35-40cv (7,0%). Estes registos levam-nos a crer que no segmento até 40 cv, na sua maioria agricultura de “part-time”, as atuais marcas a operar no mercado vieram substituir o mercado de tratores importados e vendidos sem matrícula que existia no passado e que não podem beneficiar da utilização do gasóleo agrícola nem circular na via publica.
Nos restantes segmentos, houve uma quebra de 18,7% nos 51-100cv, 16,5 nos 100-150cv e 9,8% nos 150-200cv. Nestes segmentos, onde estão a maioria dos agricultores pequenos e médios, mais afetados pelos aumentos dos custos referidos no ponto anterior e também pelos custos de produção (combustíveis, adubos, etc) e com mais dificuldade na comercialização dos seus produtos.
Acima de 200cv, registou-se um significativo aumento quando comparado com 2022, trata-se de um pequeno segmento, em número de unidades, do nosso mercado, mas muito profissional, onde se encontram os prestadores de serviços e as grandes empresas agrícolas, mais fortes na comercialização dos seus produtos, com contratos para as fábricas e grande distribuição e que no geral tiveram bons resultados.

3 - Este cenário também se verificou em Portugal, mas provavelmente com menos peso que nos grandes concessionários da Europa, dado que no nosso país o modelo de negócio leva a que o importador/distribuidor ainda suporte grande parte do custo dos stocks. Os atrasos nas entregas de algumas marcas e não em todas por igual, aliado a uma menor procura, levou a essa consequência.

4- A perspetiva para 2024 é que o mercado cresça no 1º semestre fruto da venda de unidades abrangidas no programa de renovação do parque de máquinas. A estabilização da situação política, económica e uma baixa das taxas de juro irão condicionar o comportamento do mercado no 2º semestre. Provavelmente em 2024, iremos ter um mercado muito semelhante ao de 2023.

 

E nos reboques agrícolas…

1 - O ano de 2023 terminou com uma quebra de sensivelmente 13% face a 2022 nas matrículas de reboques.
Que balanço faz?

2 - O Barómetro da Associação Europeia de Fabricantes de Máquinas Agrícolas (CEMA), que atingiu níveis
de recessão profunda – 50 pontos negativos - aponta o elevado stock nos concessionários e uma baixa procura
por parte do cliente final como um dos principais motivos de desconfiança em vários mercados europeus. Este cenário também se verifica em Portugal?

3 - Quais as perspetivas para 2024?

 

Nuno Lobo, CEO na Galucho S.A

1 - Um ano de forte queda em todo o setor que acabou por ter alguma recuperação no último trimestre de 2023. Não obstante, e graças à confiança dos nossos clientes, a Galucho voltou a ser novamente líder de mercado em Portugal na venda de reboques agrícolas.

2 - Apesar do ano de 2023 ter sido desafiante e de forte queda no setor, na generalidade dos distribuidores Galucho, não sentimos essa questão da existência de elevado stock. Pensamos que a questão do excesso de stock poderá ser um fenómeno que acontecerá mais nos distribuidores de tratores, do que nos distribuidores de alfaias. Contudo, es-tamos atentos à evolução do mercado, procurando sempre ter soluções diferenciadas e dinâmicas, que se alinhem aos diferentes momentos do mercado.

3 - 2024 será um ano que acreditamos de retoma e de reinvestimento forte na agricultura, principalmente a partir do segundo semestre. A agricultura em Portugal é um setor que tem de ser considerado como estratégico pelo próximo governo de Portugal, seja ele qual for, e acreditamos que irão surgir medidas ao longo do ano que irão promover um maior investimento e dinamização do mercado agrícola no nosso país.
Será também um ano onde haverá o início de um caminho de variadas mudanças num âmbito legal e de homologações no setor da maquinaria agrícola a nível Europeu, o que irá trazer também desafios adicionais a todos os fabricantes.

 

Ricardo Teixeira, administrador da Herculano

1 - A quebra nas matrículas de reboques de cerca de 13% em 2023 em comparação com 2022 é preocupante para o setor de máquinas agrícolas. Tal indica não só uma diminuição na atividade agrícola, como dos investimentos reduzidos por parte dos agricultores e nas mudanças nas preferências dos consumidores. Como empresa do setor, é crucial avaliar o impacto dessa que da nas vendas e identificar estratégias para mitigar os seus efeitos, como diversificação de produtos e merca-dos e investimentos em marketing e inovação.

2 -  O Barómetro da Associação Europeia de Fabricantes de Máquinas Agrícolas (CEMA) que aponta para uma recessão profunda, com elevado stock nos concessionários e baixa procura por parte dos clientes finais, já está a ser refletido em Portugal. É importante monitorizar de perto o mercado nacional para entender como esses problemas afetam a empresa. Devemos concentrar os nossos esforços em fortalecer o nosso relacionamento com os clientes, oferecendo soluções personalizadas, serviços pós-venda eficientes e garantindo a qualidade e confiabilidade dos nossos produtos.

3 -  As perspetivas para 2024 podem ser desafiadoras, dadas as condições atuais do mercado. No entanto, há também oportunidades de crescimento, especialmente com o surgimento de novas tecnologias agrícolas e a procura por máquinas mais eficientes. Como empresa, é fundamental focar na inovação e desenvolvimento de produtos para atender às necessidades do mercado. Além disso, explorar novos mercados e principalmente fortalecer parcerias com os nossos clientes é a nossa estratégia para continuar a crescer. É essencial manter-se ágil e adaptável às mudanças do mercado para garantir a resiliência e o sucesso a longo prazo da Herculano no setor dos reboques e das máquinas agrícolas

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