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2022 fecha no vermelho

25/01/2023

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Mercado cai 2,67% e previsão para 2023 é negativa

"Em 2023, a manter-se o cenário atual, espera-se uma quebra significativa dos números de 2022." O trajeto descendente do mercado de matrículas de tratores agrícolas em 2022 terminou com uma queda em relação a 2021 – 5.759 contra 5.917 – e, face à imprevisibilidade que afeta marcas e agricultores, a previsão dos especialistas que têm sido contactados por abolsamia, de uma forma geral, é que os números continuem a cair no decorrer deste ano, a menos que sejam clarificadas medidas de apoio ao setor e abrande o aumento de preços de matérias-primas, fertilizantes e energia.

O ano de 2022 terminou com a já esperada quebra no que toca ao registo de matrículas de tratores agrícolas: foram matriculados menos 158 tratores do que no total de 2021, uma queda que, ainda assim, não é muito acentuada, mas que, aliada à incerteza e imprevisibilidade que afetam o mercado nesta altura, poderá prolongar-se para 2023. A subida de preços das matérias-primas agrícolas, provocada pelo alto custo dos fertilizantes, pelo agravar das condições meteorológicas e efeito tardio do aumento dos preços da energia, vem aumentar as dúvidas dos agricultores, que se retraem quando ponderam investir em máquinas. Todos os intervenientes do setor agrícola esperam por uma ação imediata do Governo, de forma a que os apoios necessários à revitalização do setor se efetivem em 2023.

Em resumo, nem mesmo o forte crescimento de algumas marcas, como Solis ou John Deere, entre outras, evitou a queda do mercado. Dezembro de 2022 saldou-se, assim, como o segundo mês em que foram matriculados menos de 400 tratores (387) e o quinto mês do ano abaixo dos 500, quando o mesmo mês em 2021 teve 541 registos.

Analisando a evolução mês a mês em 2022, percebe-se que a quebra a pique deu-se a partir de junho pois, até maio, as marcas foram fazendo as entregas que tinham atrasadas do ano anterior – devido aos períodos de paragem forçada pela pandemia. Janeiro e fevereiro arrancaram com um crescimento superior a 50% em relação ao número de matrículas que se registara em 2021 e março já caiu para os 14,51%. Ainda assim, já com a Guerra instalada na Ucrânia e os custos de matérias-primas e energia a subirem, abril (17,79%) e maio (17,08%) trouxeram alguma estabilidade, tendo na altura os especialistas previsto uma quebra forte a partir do último trimestre. Os primeiros sinais dessa quebra surgiram, contudo, logo em junho (8,21%) e prevaleceram ao longo do verão – julho e agosto tiveram crescimentos na ordem dos 5% em relação aos meses homólogos de 2021 – perspetivando-se que no fim do ano se chegasse a números negativos. E assim aconteceu. Setembro (3,51%) e outubro (1,58%) não foram mais do que a preparação para o que já era esperado: a entrada no negativo deu-se em novembro (-0,09%) e acentuou-se em dezembro (-2,67%).

Nota: Expurgámos os ATV e UTV homologados sob a categoria T e os Telescópicos. | Origem: IMT / Fonte: ACAP

Marcas
Num intenso sprint final, a New Holland ultrapassou a Solis nos últimos dias do ano e conquistou o primeiro lugar em 2022, mantendo assim a liderança alcançada no ano anterior embora desta vez tenha registado 738 tratores, um registo bem abaixo dos 873 matriculados em 2021. A Solis esteve na liderança entre janeiro e novembro – chegou ao fim de outubro com uma média de 68 tratores matriculados por mês – mas acabou por soçobrar nos últimos instantes, já que no mês de dezembro registou apenas um trator. No que se refere às quotas de mercado das marcas, a New Holland termina na liderança, com uma quota de 12,81% (em 2021 fora de 14,76%), ligeiramente à frente da Solis, com 12,24% (9,56% em 2021). Logo a seguir surge a Kubota, com 10,59% do mercado de tratores agrícolas, restando ainda a John Deere (9,55%) e a Deutz-Fahr (7,19%) como marcas que estão relativamente aproximadas do trio da frente. A partir daqui, a quota de mercado de quase todas as marcas já se situa abaixo dos 4%, exceção feita à Kioti (5,21%).

Unidades vendidas por escalão de potência
Analisando os segmentos de potência mais vendidos, o escalão 51-120cv confirma novamente a preponderância no mercado, justificada pelos apoios do Governo para a Renovação do Parque de Tratores Agrícolas – 51,97% dos matriculados -, ficando o escalão abaixo dos 50cv mais uma vez aquém dos 40%. Quanto aos segmentos de maior potência, o de 121-200cv superou a marca dos 8%, enquanto o escalão acima de 200cv matriculou 10 tratores em dezembro, número acima da média mensal (7,27%) registada até novembro, chegando às 90 unidades no final do ano.

Marcas e modelos mais vendidos, classificados por segmentos de potência

Segundo os dados do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), a New Holland foi a marca que matriculou mais tratores em 2022 mas o modelo mais vendido é da Solis: o Solis 26 4WD Stage V registou 314 unidades transacionadas (este modelo representa 44,53% do total das matriculações da marca indiana), contabilizando mais 124 unidades do que o Farmtrac 26 4WD, segundo modelo mais matriculado do ano. Quanto às marcas líderes nos diferentes escalões de potência, a Solis manteve o domínio abaixo de 50cv, com 490 tratores matriculados novos, mais 215 do que a Kubota. No escalão 51-120cv, sobressai a New Holland, chegando aos 603 tratores matriculados, voltando a situar-se a Kubota no segundo lugar mas já a 289 máquinas de distância. Já nas potências mais elevadas, a John Deere voltou a afastar-se da Valtra: nos 121-200cv, a marca norte-americana alargou a vantagem (202 contra 56), enquanto no escalão acima dos 200cv soma 39 tratores matriculados contra 19 da marca finlandesa.


A visão dos representantes

A revista abolsamia pediu a três representantes de marcas uma leitura ao mercado nesta fase do ano.

1 - O ano de 2022 terminou com uma quebra de 2,67% nas matrículas de tratores agrícolas. Que balanço faz?

2 - Como prevê que possa correr 2023? Considera urgente por parte do Governo haver um esclarecimento em relação aos apoios previstos para o setor?

3 - Na sua óptica, quais as medidas mais prementes para a revitalização do setor?

4 - O escalão 51-120cv liderou as matrículas em 2021 e 2022. É uma tendência apenas justificada pelos apoios do Governo à renovação do Parque de Tratores agrícolas ou poderemos continuar a verificar um aumento da potência média nos próximos anos?
 

Nuno Santos (Diretor Comercial do Entreposto Máquinas)
“2022 é um ano positivo em termos de dimensão de mercado”

1 - Esta queda é consequência direta do arrefecimento da economia europeia que se reflete numa retração geral do investimento. 2022 começou com uma tendência de crescimento invertida após a primeira metade, sendo que os números finais ficaram mesmo abaixo dos homólogos de 2021. Ainda assim, o ano de 2022 terá de ser considerado um ano positivo em termos de dimensão de mercado.
2 - Para 2023 irá manter-se a tendência dos últimos meses. Devemos, por isso, preparar-nos para uma queda de mercado. Todos os dados que possam contribuir para uma melhor informação dos nossos empresários e dos intervenientes do nosso setor em geral são absolutamente vitais para uma planificação e preparação do futuro, ie, onde e como investir, qual o foco a seguir. Evidentemente que o esclarecimento dos projetos de apoio (a curto/médio e longo prazo) à nossa indústria é fundamental.
3 - Na nossa perspetiva, que é a ligada aos equipamentos e sistemas de produção, as medidas a que somos mais sensíveis são as de apoio à modernização dos meios de produção: mecanização agrícola mais eficiente e sustentável, bem como o incentivo forte na agricultura 4.0 e a todos os sistemas de apoio e monitorização da produção. Num âmbito mais generalista, deve ser feita uma reflexão estratégica profunda sobre a nossa (Portugal) segurança alimentar, de forma a prepararmo-nos melhor para subsistir sem catástrofes e reagir a eventuais cenários como os que poderiam ter saído de uma pandemia ou uma guerra em países dos quais dependamos demasiado para alimentar a nossa população. A aposta estratégica em produtos/produções de valor acrescentado é, para um país da nossa dimensão, condição necessária para os nossos empresários agrícolas aumentarem a rentabilidade e sustentabilidade do seu negócio, com a criação e desenvolvimento de produtos de origem controlada e de características únicas e melhores que as de produção generalista e para as quais não conseguimos concorrer diretamente.
4 – Sim, a tendência de aumento da potência média não é de agora e reflete a tendência de uma maior profissionalização do nosso tecido agrícola. Ainda assim, comparando com a esmagadora maioria dos restantes países europeus, em Portugal há um “mix” de potência e dimensões de tratores abaixo da média.


Arnaldo Caeiro (Diretor Geral da SDF Portugal)
“Expectativa para 2023 é de quebra se não houver programa de apoio”

1 – Esta quebra era esperada uma vez que a maioria dos mercados europeus estava em queda desde o início do ano passado como consequência do ambiente económico a nível global. Em Portugal a tendência de queda do mercado foi contrariada nos primeiros 9 meses do ano pelo programa de incentivos ao abate de tratores antigos e, portanto, o decréscimo acentuado do mercado só se verificou no último trimestre de 2022.
2 - Para 2023, as expectativas são de quebra significativa no mercado de tratores se não houver um programa de apoio ao investimento e à revitalização da agricultura que permita fazer face ao aumento generalizado dos preços e dos custos de produção. Por outro lado as alterações estruturais que ocorreram no Ministério da Agricultura e o atraso na entrada em vigor do PEPAC (novo quadro comunitário de apoio 2023-2027) têm diminuído a confiança dos agricultores e, consequentemente, estão a afetar negativamente o mercado de tratores agrícolas. Consideramos que mais importante do que um esclarecimento aos agricultores, uma vez que os apoios previstos no PEPAC têm sido explicados aos agricultores pelas associações do sector, é a abertura das candidaturas aos diferentes apoios ao rendimento e ao investimento.
3 - As medidas mais urgentes, e que podem produzir efeitos mais rápidos no sector da mecanização agrícola, passam pelo retomar do programa de incentivos ao abate de tratores antigos e pelo aumento do valor elegível para investimento em máquinas e equipamentos agrícolas que, devido ao aumento generalizado dos preços em 2022, deixou de ser suficiente continuar com a dinâmica de investimento e de substituição de equipamentos nas explorações agrícolas.
4 - O segmento de potência 51-120cv representou, em média até 2021, cerca de 52% do mercado total e, em 2022 o peso deste segmento aumentou para 58%. Este aumento de 6 pontos percentuais está, no nosso entender, associado por um lado aos incentivos à renovação do parque de tratores e, por outro, à introdução dos novos modelos com motores da Fase V que nalgumas marcas se situam agora acima dos 50cv. Para 2023, e anos futuros, cremos que o segmento 51-120cv vai ganhar importância mas sempre abaixo do peso que teve em 2022.

Fernando Garcia (Diretor-Geral da CNH Industrial)
“Indefinição do Governo contribui para paragem ainda maior do mercado”


1 – A quebra só não foi maior porque durante o primeiro semestre o mercado viveu das entregas do programa de abates e existe um segmento particular (menos de 25 CV) que apresentou um crescimento contra a tendência geral dos compactos. Sem estes 2 efeitos a quebra seria mais acentuada.
2 - No actual quadro, o mercado de tractores agrícolas vai apresentar uma quebra acentuada. A indefinição do Governo em relação a medidas que mitiguem a situação que se vive na Agricultura só contribui para uma paragem ainda maior do mercado ao fazer os clientes adiar uma possível compra à espera das tais medidas.
3 - É importante que o Governo crie a linha de apoio à aquisição/renovação/actualização de tractores agrícolas. O programa do Governo para a renovação do Parque de Tratores Agrícolas podia ser um bom ponto de partida, fazendo evoluir o programa anterior e eliminando algumas das regras que acabaram por causar uma distorção do mercado e tornando-o mais abrangente territorialmente.
4 - Sem dúvida que a razão foi o programa de abates. A tendência que o mercado português vinha apresentando era aumentar a potência média mas esta evolução foi interrompida recentemente e, com o enorme crescimento do segmento de menos de 25 CV, esta evolução está posta em causa.

Reboques

O mercado dos reboques chega ao fim do ano com uma quebra de 10,6% em relação a 2021 – no total, são menos 198 unidades em relação aos registos de janeiro/dezembro do ano anterior. À exceção da Massil, que apresenta um crescimento de 76,4% em relação a 2021, todas as restantes marcas do Top 6 caíram nos seus registos, se os compararmos com os de janeiro/dezembro de 2021. Ainda assim, e depois da Galucho ter liderado durante quase todo o ano, foi a Herculano a acabar 2022 no 1º lugar, com 403 reboques matriculados, contra 381 da Galucho, quando ambas as marcas haviam superado com alguma facilidade a barreira dos 400 reboques há um ano. No total, depois dos 1.864 reboques matriculados em 2021, o registo caiu para 1.666 em 2022.

Linhai lidera nos ATV’s e CF Moto no topo dos UTV’s

Numa análise ao mercado de vendas de ATV’s (Veículos todo o terreno) e UTV’s (Veículos utilitários multitarefas) em 2022, a Linhai manteve a liderança confortável de vendas de ATV’s: matriculou mais 44 veículos do que no ano anterior (subida de 6,89%) vendo, ainda assim, a CF Moto reduzir a distância, até por ter conseguido um crescimento de 21,8%. Nos UTV’s, o cenário já é diferente: depois de uma perseguição intensa, a CF Moto terminou 2022 na liderança: depois de ter matriculado mais 22 veículos do que a BRP em 2021, desta vez teve de suar para matricular mais 10, acabando com um crescimento de 28,09% e a BRP de 35,06%. Nota para o crescimento do mercado dos veículos utilitários em relação à mesma altura do ano passado: nos ATV, há mais 17,99% de matriculados e nos UTV’s a subida é de 37,17%, embora ambos tenham registado quebras desde agosto.

Queda em Itália chegou aos 17,1% em 2022

A Federação Italiana de Construtores de Máquinas para a Agricultura – Federunacoma – revelou os números relativos a 2022, e a quebra é clara: menos 17,1% de matriculações de tratores agrícolas em relação a 2021, tendo em 2022 sido registadas 20.217 unidades. A quebra manifestou-se especialmente nas potências de 56 a 75 cv, escalão que teve uma descida de 43,7% em relação a 2021.

Segundo a Federunacoma, as perspetivas para 2023 “continuam ligadas à evolução das variáveis económicas, desde o preço das matérias-primas aos custos de logística, até aos desenvolvimentos do conflito russo-ucraniano.”

Na edição d'abolsamia de março, não perca um artigo mais completo sobre os Mercados de 2022.

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