Oficina
Plataforma elevatória para trabalhos de desrama
14/06/2018
A limpeza ou elevação de copas e as desramas das árvores são tarefas que comportam vários riscos. Na Herdade do Brejinho de Cima, em Grândola, foi desenvolvida uma alfaia que permite realizar com maior segurança estas operações de gestão florestal. Está ao serviço desta casa há mais de três décadas e apresenta características surpreendentes.
O sector agroflorestal é fértil em invenções. Acontece com frequência que a necessidade aguce o engenho e as pessoas deitem mãos à obra para criarem soluções à medida. Foi o que fez Alfredo Sousa Santos, há já muitos anos, quando desenvolveu uma alfaia complexa destinada aos trabalhos realizados em altura na copa das árvores.
Herdade do Brejinho de Cima
Situada a poucos minutos da Vila de Grândola, a Herdade do Brejinho de Cima estende-se por uma área de 256 hectares onde predomina o montado de sobro e o pinheiro manso. A juntar a todas as restantes operações de gestão, a desrama dos sobreiros e a limpeza de copas dos pinheiros são trabalhos que José Alfredo Santos tem vindo a fazer. É aqui que entra uma alfaia de fabrico caseiro que está ao serviço desta casa há mais de três décadas.
Um invento de Alfredo Sousa Santos
Tudo começou com o que poderia ter sido um acidente. Há já uns bons anos, José Alfredo estava a desramar um sobreiro quando a motosserra deslizou e lhe passou de raspão por uma luva. Não ganhou para o susto.
De volta a casa, comentou com o seu pai que precisava de arranjar uma outra forma de trabalhar, que não implicasse subir as árvores, e ficando com uma mão ocupada para se segurar. Atento ao que o filho lhe disse, Alfredo Sousa Santos, que era mecânico e serralheiro, começou a trabalhar numa solução que permitisse realizar aqueles trabalhos de maneira mais segura.
A alfaia acabou por ganhar forma e ainda hoje continua a ter grande utilidade, sendo utilizada regularmente nos trabalhos levados a cabo na propriedade.
A plataforma traseira
A alfaia para engate na traseira do trator é, por assim dizer, o elemento principal deste conjunto. A fazer lembrar as plataformas elevatórias de tipo ‘tesoura’ utilizadas no sector logístico, a alfaia possui uma bomba de óleo acionada pela TDF que faz funcionar o elevador. Em simultâneo, a TDF aciona também um gerador elétrico que fornece corrente à motosserra.
A intenção de Alfredo Sousa Santos foi arranjar forma de pôr de lado a motosserra a gasolina, para que não fosse preciso usar vasilhame com combustível e andar constantemente a abastecer. Uma das grandes vantagens desta alfaia é permitir que uma única pessoa a manobre, pois, o manípulo de controlo está posicionado na própria plataforma.
O acessório para carregador frontal
O elemento dianteiro foi adicionado um pouco mais tarde e a sua utilização requer duas pessoas, uma a trabalhar na plataforma e a outra a manobrar o trator. Permite que se trabalhe ainda em maior altura do que a plataforma traseira.
Em termos de arquitetura de funcionamento, a ‘tesoura’ de elevação funciona através de um princípio idêntico ao da alfaia principal. O cilindro hidráulico que permite a elevação é acionado através de um manípulo adicional (terceira função) incluído no carregador frontal.
A atenção posta nos detalhes
A plataforma elevatória inclui um acessório para fazer o controlo da regeneração natural. Na aparência assemelha-se a um corta-relvas, possui motor elétrico, e utiliza um disco como elemento de corte. Com recurso a uma extensão, pode trabalhar a uma certa distância do trator.
Hoje, este acessório praticamente não é utilizado por terem surgido métodos mais práticos de realizar esta tarefa, seja com moto-roçadora ou com corta-mato. Mas é um exemplo da minúcia posta por Alfredo Sousa Santos no fabrico desta alfaia, que incluía ainda um trem de rodas para transporte em estrada, em posição semimontada, e iluminação para se poder trabalhar mesmo durante a noite.
Com marca BC
Não se tratando de uma alfaia patenteada ou para comercialização, esta plataforma não tem uma marca registada. Mas se tivesse, é fácil saber qual seria. Nos tratores e alfaias que tem na propriedade, bem como nas viaturas, José Alfredo Santos tem por hábito aplicar a designação BC, iniciais de Brejinho de Cima. E a plataforma não é exceção. No painel do lado direito, lá está a designação BC. Embora sem ser uma marca oficial, não deixa de ser a marca que tem.