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Jan/ago 2023: Baixa procura para tanto stock

11/10/2023

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Baixa procura para tanto stock

O mercado de matrículas de tratores agrícolas chega ao fim de agosto perto dos 23% negativos face ao período homólogo de 2022, e se no final do ano passado, o cenário era um – procura elevada, livros de encomendas cheios e falta de matéria-prima e componentes para produção -, agora inverte-se: o investimento realizado no início do ano deu lugar a alto níveis de stock mas o ambiente económico não propicia o investimento por parte dos empresários agrícolas.

Entre janeiro e agosto deste ano foram matriculados 3.207 tratores, menos 929 (-22,46%) do que em igual período de 2022 (4.136). Trata-se de uma ligeira melhoria em relação aos números pré-Verão (-28%) mas importa perceber qual a realidade que o mercado atravessa nesta fase e essa é completamente oposta à que se vivia no final de 2022 e início deste ano. Nessa altura, a procura era elevada, mas a falta de matérias-primas e componentes para produção afetava as fábricas, incapazes de responder aos pedidos dos concessionários das marcas. Agora, o cenário inverteu-se por completo: face ao investimento dos importadores de forma a poderem servir o desejo dos seus clientes, os diferentes players têm um elevado stock de material mas os livros de encomendas encontram-se agora vazios, em função de um ambiente económico difícil, com um condicionado acesso ao crédito que leva os empresários agrícolas a retrair-se e a esperar por melhores dias. Os concessionários vão escoando o stock conforme podem até porque a inflação continua elevada, não dando lugar a grandes investimentos.

“Deu-se uma inversão: se antes havia muito mais procura do que oferta, por haver falta de stock, agora o cenário é o oposto. Os importadores precaveram-se e reforçaram o stock mas o ambiente económico não propicia o investimento. Motivos? O aumento da inflação, o difícil acesso ao crédito porque os bancos são cada vez mais rígidos nos empréstimos e ainda o aumento do combustível, que leva os empresários agrícolas a pensarem duas e três vezes antes de comprarem tratores”, explicou-nos Nuno Santos, diretor-comercial do Entreposto Máquinas. A palavra de ordem para os importadores, provavelmente até ao fim do ano, será escoar as máquinas para que o início de 2024 “possa trazer uma outra realidade” esperada no setor.

O plano de abate que o Governo lançou perto do verão “foi menos influente” do que o do ano anterior e “só será percetível nos números de setembro ou outubro”, mesmo que esteja previsto um novo plano na reta final do ano. Se os números de maio revelavam maior quebra no escalão <50cv, em agosto o cenário também é diferente: na potência 51-120cv, e comparando com o período homólogo do ano passado, a quebra é quase para metade (2.164 para 1.282).

Pese embora os números se situem acima dos 20% negativos, a expetativa para os últimos quatro meses é, ainda assim, animadora. “Prevejo que acabemos o ano com uma quebra situada na ordem dos 15-20%. Não espero que haja quebras de 20% em cima dos números do final do ano passado”, concluiu Nuno Santos. Recorde-se que o ano de 2022 chegou ao fim com -2,67% no registo de matrículas em relação a 2021.

Nota: Expurgámos os ATV e UTV homologados sob a categoria T e os Telescópicos. | Origem: IMT / Fonte: ACAP

Marcas

O cenário de quebra é bastante similar ao que se verificava no início do verão, ainda que com uma diferença assinalável: das 15 primeiras marcas, só a LS e a Branson é que registaram subidas, com esta última a ter um aumento de 57,5% em relação ao número de matriculados que tinha em agosto do ano passado, aproximando-se agora e cada vez mais dos números que tinha pré-pandemia: de janeiro a agosto de 2019 havia matriculado 72 tratores, mais 9 do que nos primeiros oito meses deste ano. Entre as dez marcas com mais unidades matriculadas, a Kubota regista agora o maior decréscimo em relação ao período homólogo do ano passado: -37,95%. A Solis mantém a liderança e conseguiu amenizar a quebra para -7,01%, sendo que as seis marcas abaixo registam todas quebras acima dos 22%. Quanto às quotas de mercado dos cinco primeiros, só a Solis melhorou enquanto a John Deere e a Deutz-Fahr mantiveram-se na mesma casa percentual. Já a New Holland e a Kubota desceram 2 pontos percentuais.

Unidades vendidas por escalão de potência

Nos segmentos de potência mais vendidos, o cenário é bem diferente daquele que se verificava há exatamente um ano. A quebra é clara em quase todos os escalões de potência – principalmente no 51-120cv – e só mesmo no >200cv é que o crescimento se mantém: nos primeiros 8 meses deste ano foram matriculados 78 tratores, ou seja, 86,6% do total de 2022 (90) e mais 24 do que em igual período do ano transato. “A velocidade é hoje a palavra-chave” no que toca a apostar em tratores mais potentes para cobrir maiores áreas de terreno, como explicou Nuno Inácio, CEO da J. Inácio, a abolsamia nas edições de maio e julho. Se os números dos tratores <50cv são semelhantes aos de agosto de 2022 (os apoios que surgiram perto do verão levaram o agricultor de fim-de-semana a investir e novos apoios são esperados para a reta final deste ano), já a potência 51-120cv, que abarca os agricultores profissionais, sofre uma queda quase para metade: os 1.282 contrastam e muito com os 2.164 matriculados no fim do segundo terço do ano passado.

 

Marcas e modelos mais vendidos, classificados por segmentos de potência

Segundo os dados do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), a Solis foi a marca que matriculou mais tratores nos primeiros oito meses de 2023 (544) e também a que detém os dois modelos mais vendidos. O destaque da marca indiana este ano tem sido o 26 9+9 M5, o qual teve 242 unidades matriculadas, ou seja, 44,49% do total dos registos da Solis. Contabiliza mais 73 unidades do que o Solis 26 4WD Stage V e supera o Farmtrac 26 4WD, o terceiro da lista, em 138 unidades. Quanto às marcas líderes nos diferentes escalões de potência, a Solis prolongou o domínio <50cv, com 514 tratores matriculados novos, mais 358 do que a Kubota. No escalão 51-120cv, a New Holland ‘disparou’ na frente, chegando aos 268 tratores matriculados, mais 96 do que a principal concorrente Deutz-Fahr. Já nas potências mais elevadas, a John Deere sobressai nos 121-200cv, matriculando quase o triplo (88) da Valtra (30). Mas os finlandeses ainda levam a melhor na potência >200cv: registam 25 tratores matriculados, mais 1 do que a marca do veado. Se olharmos para os modelos mais matriculados para o setor profissional (+100cv) nestes primeiros cinco meses do ano, destacam-se um trio da John Deere – 6120M (29 unidades), 6155M (18) e 6130M (9) – além do Massey Ferguson 5713M (11).

A visão dos representantes

Que avaliação faz ao mercado de tratores nos primeiros oito meses do ano? O que perspetiva para a reta final de 2023 e o ano de 2024?

Bruno Pignatelli (Gerente da Tractores Ibéricos)
“Dificuldade de obter crédito tem afetado o mercado”

"Está a ser um ano complicado em dois aspetos: em primeiro lugar porque, de facto, o mercado atravessa uma quebra. Olhando aos números de janeiro a agosto, retirando os ATVs e os UTVs, estamos com uma quebra de 23%. Continuamos ainda a assistir a um crescimento no segmento dos 26 cv de baixas especificações e oriundos de mercados como a Índia. Acreditamos que sejam agricultores de pequena escala que eram utilizadores de motocultivadores ou tratores sem matrícula e que veem nestes produtos a oportunidade de ter um trator a baixo custo e que pode circular em estrada. Muitos destes clientes não recorrem ao crédito, outro fator que tem afetado o mercado e, nomeadamente, a atratividade das campanhas financeiras."

Arnaldo Caeiro (CEO SDF Portugal)
“Esperamos que o mercado anime se houver novo apoio ao abate”

“O mercado de tratores em Portugal está em queda acentuada. Esperamos que possa ‘animar’ ligeiramente nos últimos dois meses do ano se no entretanto abrirem novos apoios ao abate de tratores. Os segmentos mais afetados são sobretudo os de média potência (entre os 60 e os 100 cv) – existem mesmo segmentos com quebras superiores a 60%. Olhando ao tipo de cliente, profissional ou não profissional, verificamos que os primeiros estão praticamente ‘obrigados’ a comprar, havendo ou não apoios, já o não profissional, ou de fim de semana, para quem a agricultura é um complemento à sua atividade principal, só compra quando há apoios. A entrada na Fase V das emissões acabou por significar um aumento muito significativo nos preços dos tratores de 80/90cv que têm atualmente um valor acima da perceção de valor destes clientes. As subidas das taxas de juro também acabam por impactar os clientes e, nesse sentido, continuamos a ter uma bonificação da taxa”.

João Pimenta (Diretor-geral da Ascendum Agro)
“Mercado para clientes não profissionais vai sofrer mais em 2024”

“Até julho o segmento dos 80 aos 120 cv caiu 50%, e o segmento de mais de 80 cv caiu 40%. Ou seja, somando todos os segmentos de potência acima de 80 cv e comparando com o ano anterior verificamos que houve uma queda de 40%. Nos segmentos de maior potência (acima dos 200 cv) existe até algum crescimento e que se deve, em parte, aos números da Valtra. A explicação do nosso sucesso está em determinados nichos do mercado agrícola, que são resultado de muito suor ao longo de muitos anos de trabalho. No passado, apesar de termos uma quota de mercado superior tínhamos uma performance a nível de números bastante inferior. Queremos continuar a crescer nestes segmentos de média e alta potência. Em 2024 diria que o mercado de tratores para clientes não profissionais irá sofrer mais, visto serem agricultores que não dependem da sua máquina para levarem a cabo a sua principal atividade. Quem depende de uma máquina para continuar o seu negócio terá de comprar. O fenómeno a que poderemos assistir é que, eventualmente, em vez de comprar dois compra só um, ou em vez de comprar novo, compra usado com garantia. O nosso mercado acima de 100 cv é relativamente pequeno, cifrando-se sempre à volta das 1000 unidades/ano. A potência média tem vindo a subir e acreditamos que esses 1000 podem passar a 1400 em pouco tempo.”

Francesco Zazzetta (Diretor comercial para a Península Ibérica da New Holland)
“Níveis de stock tem descido gradualmente e o ínicio de 2024 será melhor”

“O início do ano penalizou-nos bastante porque, no segmento entre os 50 e os 120 cv, onde temos uma penetração bastante grande, o mercado caiu bastante. Por outro lado, vemos o mercado de tratores de menos de 50 cv a crescer muito, com a introdução de várias marcas que não estavam no mercado europeu. Vemos o mesmo a acontecer em Espanha, em França e também em Itália. É uma nova tendência. Temos visto os clientes um pouco mais relutantes na decisão de investir em novos equipamentos, mas acreditamos que o próximo ano será melhor. Este ano será um ano desastroso para a vinha a nível ibérico. Ao falar com os clientes da vinha, compreendemos que esta possa ser uma fase de transição depois de subidas de preço abruptas no ano passado. As empresas ainda tentam perceber como se posicionar e como reestruturar os seus negócios tendo em vista o futuro. As condições alteraram-se muito rapidamente desde o início do ano, passámos de uma altura em que não havia disponibilidade de tratores e cadernos de encomendas cheios (pouca oferta, muita procura), para o contrário (muita oferta, pouca procura). Dois anos depois da pandemia, as fábricas quase todas já chegaram aos níveis de produção pré-pandemia. Assim, iniciámos o ano com stocks altos nos concessionários no preciso momento em que chegámos a máximos nos custos financeiros. Gradualmente temos vindo a baixar os níveis de stock nos concessionários e esperamos uma recuperação nos tratores especializados em 2024. Assim, diria que o início de 2024 será muito melhor do que o início deste ano.”

Reboques

O mercado dos reboques agrícolas regista, no final de agosto, uma quebra de 10,6% em relação ao período homólogo do ano passado. Olhando para o quadro, salta à vista a quebra da Herculano – menos 101 reboques matriculados –uma tendência que afeta quase todas as grandes marcas, exceção feita à Galucho, Joper e Rates, ainda que só a terceira mostre crescimento apreciável em relação a 2022. Para perceber o porquê desta tendência, falámos com João Montez, diretor comercial da Ja&ma Reboal. “À primeira vista vejo dois motivos: o mercado está estagnado, mais parado do que no ano passado e os concessionários ainda têm muito stock de reboques para escoar, fruto de campanhas feitas no ano passado e início deste ano. Por isso, não matriculam mais enquanto não conseguirem vender o que têm acumulado”, explicou. A 31 de agosto tinham sido matriculados menos 116 reboques do que na mesma fase de 2022 e, ainda segundo João Montez, “a tendência é que o cenário se mantenha até ao fim do ano”, pois as marcas quererão escoar o stock que têm para, só depois, investir em novos reboques para matricular e vender.

 

CF Moto domina mercado de ATV e UTV

Numa análise ao mercado de vendas de ATV’s (Veículos todo-o-terreno) e UTV’s (Veículos utilitários multitarefas) nos primeiros oito meses de 2023, sobressai o crescimento revelado pela CF Moto. Nos ATV, o crescimento tem sido progressivo em relação ao período homólogo do ano passado e situa-se agora na ordem dos 50% - a 31 de agosto de 2022 havia matriculado 271 veículos e agora fê-lo com… 406 – ainda que a Linhai não esteja longe (388 matriculados). Já nos UTV, surge como a grande novidade ao cabo do segundo terço do ano pois ‘disparou’ e ultrapassou a BRP, chegando a 31 de agosto com 150 veículos matriculados face aos 120 da concorrência mais próxima: em agosto do ano passado, ambas as marcas registavam 82 veículos com matrícula. No geral, os registos de UTV atingem os 483 no fim de agosto (+29,14% em relação ao período homólogo de 2022), enquanto nos ATV os matriculados ascendem aos 1.215, número que, ainda assim, ficou abaixo (-1,70%) dos 1.236 registados a 31 de agosto de 2022.

 

Quebra de 14,91% no mercado em Espanha

O Ministério de Agricultura, Pesca e Alimentação (MAPA) de Espanha divulgou os dados relativos ao registo de tratores agrícolas no país nos primeiros oito meses de 2023 e os números são ligeiramente melhores do que os registados nos primeiros meses do ano, ainda que a quebra se manifeste em relação ao período homólogo de 2022. Foram matriculados 5.365 tratores agrícolas entre 1 de janeiro e 31 de agosto, o que significa uma quebra de 14,91% em relação aos 6.305 do ano passado, segundo a Revista espanhola Profesional Agro.

Se nos cingirmos apenas ao mês de agosto, a quebra acentuou-se: -16,71%, pois foram matriculados 593 tratores, menos 119 do que em 2022 (712). Já contabilizando o universo total de maquinaria agrícola em Espanha entre janeiro e agosto deste ano, os dados são igualmente negativos mas aqui, já de forma totalmente residual: os registos oficiais revelam 20.726 unidades matriculadas, menos 0,65% do que as 20.861 entre janeiro e agosto de 2022.

Refira-se ainda que a Associação Espanhola de Fabricantes-Exportadores de Maquinaria Agrícola, por intermédio do seu gerente Jaime Hernani, fez um balanço das exportações de maquinaria agrícola à Profesional Agro. “A maquinaria agrícola (8,8%) tem um comportamento excecional. As exportações cresceram 11% em todo o mundo, 26% na Europa – 177% em Itália, 50% na Alemanha e 43% em França. Na América Latina, destaque positivo para o México (40%) e negativo para a Argentina (-30%), e nos Estados Unidos cresceu 70%. Já no que toca a equipamentos para pós-colheita, a exportação cresceu 8% em todo o mundo e 9% na Europa. Por fim, nota para o impasse dos componentes agrícolas que mantêm os níveis de exportação (5%) na Europa, tendo crescido para África (36%) e caído na mesma proporção para a América Latina”, referiu Jaime Hernani.

Saldo positivo no Reino Unido

Ao contrário de Portugal e Espanha, o registo de matrículas de tratores agrícolas no Reino Unido entre janeiro e agosto de 2023 apresenta um crescimento de 4,4% (8.588 unidades no total) em relação ao período homólogo de 2022. Ainda que em agosto se tenha verificado uma queda em relação ao mesmo mês do ano passado (-14,4%) – segundo a Associação de Engenheiros Agrónomos britânicos, “agosto é sempre um mês relativamente lento para os registos, já que os agricultores estão ocupados com outras atividades, e a colheita deste ano pode ter impactado este número (714 registos) – a verdade é que o saldo é positivo nos primeiros oito meses do ano. Além disso, o total entre janeiro-agosto deste ano supera em 3% a média dos últimos cinco anos.

Barómetro de negócios da Associação Europeia de Maquinaria Agrícola (CEMA)
Setembro de 2023 – Clima de negócios em recessão

O índice geral do clima empresarial para a indústria de maquinaria agrícola na Europa continuou a cair acentuadamente depois de ter atingido território negativo em julho pela primeira vez desde a crise na sequência da Covid 19. Em setembro, o índice caiu de -22 pontos para -31 pontos (numa escala de -100 a +100).

Entretanto, 58% dos participantes no inquérito espera que o seu volume de negócios diminua nos próximos seis meses e, tendo em conta a próxima entrada de encomendas (um indicador que não é considerado no cálculo do índice global do barómetro), até 71% espera um novo declínio. O clima negativo parece também ter atingido os fabricantes de componentes: o otimismo manifestado nos primeiros meses do ano deu agora lugar a expetativas francamente negativas em relação ao que resta de 2023.

De acordo com os participantes no inquérito, a necessidade de investimento parece estar esgotada em todos os mercados europeus de clientes finais. Por conseguinte, não existe um único mercado europeu para o qual a maioria dos participantes no inquérito tenha expectativas positivas em termos de volume de negócios. Especialmente os dois principais mercados, Alemanha e Itália, desceram ainda mais na classificação dos níveis de confiança do mercado. No entanto, para 2023 como um todo, os participantes no inquérito ainda esperam, em média, um ligeiro aumento no balanço geral do volume de negócios para a sua empresa.

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