Notícias

Feiras e Eventos

EuroTech Day junta 9 países para debater a utilização de drones na agricultura

19/11/2025

Partilhe:

O EuroTech Day, organizado pela empresa daTERRA, reuniu no dia 18 de novembro, na Quinta da Pacheca, especialistas de nove países para discutir o futuro da pulverização com o recurso a drones e o enquadramento técnico e regulamentar desta tecnologia.

Entre os participantes estiveram várias referências da investigação europeia, como Emilio Gil (UPC), Jean-Paul Douzals (INRAE), Marco Grella (UNITO), Vasilis Psiroukis (Universidade de Atenas), David Nuyttens (ILVO), Jens Karl Wegener (JKI), representantes da indústria fitofarmacêutica, como a AEPLA, a CropLife e a CropLife Europe, bem como a Bárbara Oliveira, responsável pelo enquadramento nacional na DGAV e a Ana Paula Garcia, sub-Diretora da DGAV. Já a South China Agricultural University trouxe a visão de um dos mercados mais avançados do mundo nesta área.

O encontro integrou apresentações técnicas e uma demonstração de campo, onde foram evidenciados avanços no desempenho dos drones e na precisão da aplicação.

Um dos temas centrais foi a falta de regulamentação harmonizada na Europa. Cada país segue metodologias próprias para avaliar o recurso aos drones e a aplicação de produtos fitofarmacêuticos, o que torna difícil validar equipamentos e avançar para uma utilização segura e consistente. Países como Alemanha, Bélgica ou Grécia enfrentam processos complexos, enquanto Portugal procura definir regras claras através de um grupo de trabalho que reúne investigadores, agricultores e entidades reguladoras.

Também a definição da dose foi debatida, com especialistas a defenderem que a recomendação deve seguir a superfície foliar e não o hectare, acompanhando práticas já adotadas noutros mercados.

Uma tecnologia com potencial, mas com peso e medida

Apesar do potencial dos drones, sobretudo pela sua capacidade de operar em zonas de difícil acesso, como as vinhas de montanha, a principal conclusão do EuroTech Day foi clara: os drones não substituem, para já, as técnicas mecanizadas de pulverização.

Foi consenso entre os oradores que, com os dados atualmente disponíveis, os drones apresentam resultados inferiores em distribuição, uniformidade e deposição das gotas nas copas das plantas, em particular nas culturas tridimensionais. Além disso, faltam estudos robustos sobre bioeficácia, e muitas das formulações fitofarmacêuticas atualmente disponíveis não estão validadas para aplicação aérea via drone.

A comparação com a China, muitas vezes citada como exemplo de adoção massiva, deve ser contextualizada. Naquele país, os drones surgem como substitutos da pulverização manual, uma prática ainda dominante. Já na Europa, a referência atual é a pulverização mecanizada, e nesse contexto, os drones ainda não atingem níveis de eficácia comparáveis.

Cautela, evidência e aplicabilidade
O EuroTech Day não foi, de todo, um apelo ao abandono da tecnologia, mas sim um convite à reflexão crítica e informada. A adoção de drones deve ser feita com base em dados científicos, regulamentação clara e objetivos agronómicos concretos, evitando o risco de criar resistências por aplicações mal calibradas ou de comprometer a eficácia por falta de deposição adequada.

Portugal, contrariamente à perceção dominante, não está a ficar para trás. Está, sim, a avançar com responsabilidade, ouvindo a ciência e os reguladores, e procurando criar condições para que a tecnologia seja integrada quando e onde fizer sentido.

A tecnologia dos drones tem um papel a desempenhar, sobretudo em situações muito específicas. Mas não é, para já, uma solução universal. E como ficou bem vincado no EuroTech Day, os países que regularem com base em evidência e prudência estarão mais bem preparados para liderar, não os que se precipitarem por impulso ou entusiasmo tecnológico.

Partilhe:
Partilhe:
Pesquisa

Vídeos mais vistos

Vídeos mais vistos